Todos os louvores são para Allah, o Exaltado e que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre Seu Profeta Muhammad (Sallallahu Alaihi wa sallam), sua família e Companheiros e todos aqueles que os seguem até o Dia da Ressurreição.
O sistema político do Islam é único na sua estrutura, funcionamento e finalidade. Não é pragmático, nem instrumentalista; nem é teocrático, para conceder a uma determinada classe de pessoas direitos divinos, hereditários ou não, e colocálas acima dos outros cidadãos, fora de qualquer possível contestação. Nem é proletário, para permitir a alguns trabalhadores reivindicativos tomarem conta do poder. Para se apreciar a concepção política do Islam, é preciso saber que a mesma assenta nos seguintes princípios:
1 - Cada ação individual do muçulmano ou de um grupo de muçulmanos deve inspirar-se e guiar-se pela Lei de Allah (سبحانه و تعالى), o Alcorão, que é a constituição que Allah (سبحانه و تعالى) escolheu para os Seus verdadeiros servos. E se alguém não julgar ou governar conforme o que Allah (سبحانه و تعالى) revelou, isso significa que é infidelidade, fraude e rebeldia. Diz Allah (سبحانه و تعالى):
“Julguem segundo o que Allah nele revelou, porque aqueles que não julgarem conforme o que Allah revelou serão depravados. Em verdade, revelamos-te o Livro corroborante e preservador dos anteriores. Julga-os, pois, conforme o que Allah revelou e não sigas os seus caprichos, desviando-te da verdade que te chegou, A cada um de vós temos ditado uma lei e uma norma; e se Allah quisesse, teria feito de vós uma só nação; porém, fez-vos como sois, para testar-vos quanto àquilo que vos concedeu. Emulai-vos, pois, na benevolência, porque todos vós retornareis a Allah, o Qual vos inteirará das vossas divergências, lncitamos-te a que julgues entre eles, conforme o que Allah revelou; e não sigas os seus caprichos e guarda-te de quem te desviem de algo concernente ao que Allah te revelou, Se tu refutarem fica sabendo que Allah os castigará por seus pecados, porque muitos homens são depravados. Anseiam, acaso, o juízo do tempo da insipiência? Quem melhor juiz do que Allah, para os persuadidos?” (Alcorão Sagrado 5:47 ao 50)
Na verdade, o Alcorão ensina o que há de melhor e mais correto. Diz Allah (سبحانه و تعالى):
“Em verdade, este Alcorão encaminha à senda mais reta e anuncia aos fiéis benfeitores que obterão uma grande recompensa". (Alcorão Sagrado 17:9)
2 - No Estado Islâmico, a soberania não pertence ao chefe, e nem sequer às próprias pessoas; pertence a Allah (سبحانه و تعالى), e o povo, no seu todo, exerce-a por autorização d’Ele para impor a Sua Lei e cumprir a Sua vontade. O chefe, seja ele quem for, não é mais do que um executante que o povo elegeu para servi-lo, conforme a Lei de Allah (سبحانه و تعالى). Eis os alicerces do Estado Islâmico, em coerência com a concepção geral do Islam sobre o Universo, cujo Criador e único Soberano é Allah (سبحانه و تعالى). O Alcorão tem passagens como estas:
“Bendito seja Ele, que tem em Suas mãos o mando e o poder acima de tudo.” (Alcorão Sagrado 67:1)
“Na verdade, Allah manda-vos restituir os bens confiados a seu dono; e quando julgardes (ou governardes) entre a gente, Allah obriga-vos a julgar com justiça. Quão nobre é isto a que Allah vos exorta!” (Alcorão Sagrado 4:58)
“E a Allah pertence o domínio do céu e da terra e de tudo o que há entre eles; e n'Ele é o fim de tudo". (Alcorão Sagrado 5:20)
3 - A finalidade do Estado Islâmico é garantir justiça, segurança e proteção a todos os cidadãos, sem distinção de cor, raça ou crença, de acordo com os mandamentos de (سبحانه و تعالى) expressos na Sua Constituição, que é o Alcorão. O problema das minorias religiosas ou raciais não se levanta desde que essas respeitem as leis e os respectivos cidadãos sejam pacíficos. O Alcorão diz:
“O fiéis, sede firmes em observardes a justiça, atuando de testemunhas, por amor a Allah, ainda que o testemunho seja contra vós mesmos, contra os vossos pais ou contra os vossos parentes, seja contra vós mesmos, contra os vossos pais ou contra os vossos parentes, seja o acusado rico ou pobre, porque a Allah incumbe protegê-los. Portanto, não sigais os vossos caprichos, para não serdes injustos; e se falseardes o vosso testemunho ou vos recusardes a prestá-lo, sabei que Allah está bem inteirado de tudo quanto fazeis". (Alcorão Sagrado 4:135)
“Em verdade, Allah defende os fiéis... São aqueles que, quando os estabelecemos na terra, observam a oração, pagam o zakat, recomendam o bem e proíbem o ilícito. E em Allah repousa o destino de todos os assuntos". (Alcorão Sagrado 22:38 e 41)
4 - Sendo destinado às acima mencionadas e a impor a Lei de Allah (سبحانه و تعالى), o Estado Islâmico não pode ser controlado por nenhum partido político que preconize uma doutrina não-islâmica, nem pode ser dominado por nenhuma potência estrangeira. O Estado tem que ser independente para exercer devidamente a sua autoridade, em nome de Allah (سبحانه و تعالى) e pela Sua causa. Isso decorre do princípio de que o muçulmano só se submete a Allah (سبحانه و تعالى) e manifesta a sua lealdade para com a Lei Divina, prestando toda a cooperação e ajuda aos que ministrarem a Lei e respeitarem os seus mandamentos. Será portanto incompatível com o Islam que uma nação muçulmana seja governada por um agrupamento político que não respeite os princípios islâmicos. Allah (سبحانه و تعالى) decretou:
“Allah decretou: Venceremos, Eu e os Meus mensageiros! Em verdade, Allah é Poderoso, Fortíssimo. Não encontrarás povo algum que creia em Allah e no Dia do Juízo final, que tenha relações com aqueles que contrariam Allah e o Seu Mensageiro, ainda que sejam seus pais ou seus filhos, seus irmãos ou parentes. Para aqueles, Allah lhes firmou a f é nos corações e os confortou com o Seu Espírito, e os introduzirá em jardins, abaixo dos quais correm os rios, onde morarão eternamente. Allah se comprazerá com eles e eles se comprazerão n 9Ele. Estes formam o partido de Allah. Acaso, não é certo que os que formam o partido de Allah serão os bem-aventurados?" (Alcorão Sagrado 22:38 e 41)
5 - 0 chefe, seja ele quem for, não é soberano do povo. Ele não é mais do que um funcionário representativo eleito pelo povo, e a autoridade dele decorre do fato de ele obedecer à Lei de Allah (سبحانه و تعالى), a Lei que liga chefe e súditos igualmente por um contrato solene patrocinado por Allah (سبحانه و تعالى). No Islam, o contrato político não se conclui somente entre a administração e o público; mas sim entre estes juntos, por um lado, e Allah (سبحانه و تعالى), por outro, e moralmente é válido e obrigatório só enquanto a parte humana cumprir com as suas obrigações para com a parte divina. Os chefes que são eleitos pelo povo para cumprirem a palavra de Allah (سبحانه و تعالى) têm direito à cooperação e ao apoio do público na medida em que eles próprios respeitarem a palavra de Allah (سبحانه و تعالى). Se o público ou qualquer membro da sociedade faltar ao apoio ou à cooperação devida a tal administração, a ação dele seria considerada uma ofensa irresponsável dirigida à administração respectiva e ao próprio Allah (سبحانه و تعالى). Igualmente, se a administração se desviar do caminho de Allah (سبحانه و تعالى) ou desobedecer à Lei de Allah, cometerá um pecado da mesma gravidade, e ainda não terá direito nenhum ao apoio e à lealdade do público. Allah (سبحانه و تعالى) diz no Alcorão:
“O fiéis! Obedecei a Allah e ao Seu Mensageiro e àqueles de entre vós que exercem autoridade legítima. Se surgir entre vós qualquer disputa, submetei-a a Allah e ao Seu Mensageiro, se credes em Allah e no Dia do Juízo Final. É o melhor e o mais conveniente para se tomar uma decisão definitiva.” (Alcorão Sagrado 4:59)
A obediência às pessoas investidas de autoridade depende da maneira como estas obedecem à Lei de Allah (سبحانه و تعالى) e às Tradições do Seu Mensageiro (صلى الله عليه وعلى آله وسلم). Em um dos ditos o profeta Muhammad (صلى الله عليه وعلى آله وسلم) disse que:
“Nenhum ser humano, governador ou governado, merece obediência ou lealdade, se ele próprio não obedecer a Allah e a Sua Lei.”
Os primeiros sucessores de Muhammad compreenderam muito bem este princípio e declararam nos seus discursos políticos que exigiam obediência e ajuda do povo enquanto eles próprios obedecessem a Allah (سبحانه و تعالى), e que não exigiríam isso do povo, caso eles mesmos se afastassem do caminho de Allah (سبحانه و تعالى).
6 - Os governadores e administradores devem ser eleitos entre os cidadãos com o máximo de qualidades, com base nos próprios méritos conferidos pela virtude, aptidões e competências. A raça ou o prestígio da família e a posição financeira não são capazes, por si só, de conferir aos eventuais candidatos mais ou menos habilitações para altas funções públicas; nem são capazes de promover ou escurecer os méritos do indivíduo. Cada candidato tem que ser apreciado segundo os próprios méritos, que quase nada têm a ver com o prestígio da família, riqueza, raça e idade tudo isso é insignificante. Os candidatos podem ser eleitos por consentimento do povo expresso nas eleições gerais, ou podem ser escolhidos e autorizados pela administração pública, que por seu turno se encontre autorizada a governar pelo acordo dos vários setores da sociedade. Deste modo, um Estado Islâmico pode ter tantos conselhos representativos ou governos municipais quantos forem necessários. O direito à eleição ou seleção e as ações da administração regem-se pela Lei de Allah (سبحانه و تعالى) e devem sempre ter presente o interesse supremo da sociedade no seu todo. O Profeta Muhammad (صلى الله عليه وعلى آله وسلم) disse:
“Quem confiar a uma pessoa um cargo público enquanto na sua sociedade houver outra melhor para desempenhar aquele cargo, atraiçoa a confiança nele depositada por Allah, pelo Seu Mensageiro e pelos muçulmanos.”
Falando em termos de política, isso quer dizer que o eleitorado não pode, moralmente, mostrar indiferença perante acontecimentos públicos e deverá, todas as vezes que votar em alguém, agir após atenta investigação para que a escolha seja ponderada. Desta maneira, o Estado pode garantir, nas melhores condições, a segurança e a responsabilidade dos cidadãos, das que carecem muitos Estados democráticos modernos.
7 - Depois de o povo ter demonstrado as suas opções através da eleição ou seleção do governante, cada cidadão tem a obrigação de vigiar, na medida das suas possibilidades, as ações da administração e responsabilizá-la da condução dos assuntos públicos, cada vez que verificar algum desvio. Se a administração atraiçoar a confiança de Allah (سبحانه و تعالى) e do povo, perde o direito de continuar a desempenhar as suas funções. Terá que ser dissolvida e substituída por outra, que possa servir com responsabilidade e fidelidade os interesses do mesmo povo. Portanto, os princípios do poder hereditário ou do governo para toda a vida não têm aplicação num Estado Islâmico.
8 - Embora o governador seja eleito ou indicado pelo povo, a primeira res ponsabilidade dele manifesta-se perante Deus, e só em segundo lugar perante o povo. O seu cargo não é apenas simbólico, nem o seu papel puramente abstrato. Nem é uma figura decorativa, cuja única ocupação é assinar papéis ou cumprir a vontade do público, seja ela justificada ou errada. Ele tem que exercer o poder efetivo em nome do povo e no seu interesse, de acordo com a Lei de Allah (سبحانه و تعالى), porque a responsabilidade é dupla. Por um lado, é responsável perante Allah (سبحانه و تعالى) pelas suas ações e, por outro, é responsável perante o povo que depositou nele a sua confiança. Ele terá que dar conta perante Allah (سبحانه و تعالى) do modo como tratou o seu próprio povo ou os representantes dele. Mas tanto o chefe como os súditos terão que dar conta também perante Allah (سبحانه و تعالى) da maneira como trataram o Alcorão, e obedeceram à Lei que Allah (سبحانه و تعالى) prescreveu como obrigatória. A responsabilidade perante o povo impõe ao chefe abordar os assuntos dos seus súditos tendo presente o interesse comum supremo; em virtude da sua responsabilidade perante Allah (سبحانه و تعالى), terá que agir de acordo com a Lei Divina. Deste modo, o sistema político do Islam difere fundamentalmente de todos os outros sistemas políticos e doutrinas, pois que o chefe não pode governar o seu povo satisfazendo somente os seus desejos, mas sim tomando a justiça uma lei geral da sociedade, fazendo da verdadeira obediência ao Senhor do Universo uma fúnção sistemática do Estado, e elevando a moralidade autêntica entre as mais nobres ações da administração.
9 - Embora o Alcorão seja a Constituição do Estado Islâmico, Allah (سبحانه و تعالى) prescreveu aos muçulmanos tratarem dos assuntos comuns através de métodos consultivos. Isso possibilita a ação dos conselhos legislativos e órgãos consultivos, tanto ao nível nacional ou local como ao nível internacional. Cada cidadão do Estado Islâmico tem obrigação de oferecer os melhores conselhos para solução dos problemas comuns e deve ser autorizado a fazê-lo. Para cumprirem esta obrigação de maneira prática e proveitosa, os governantes devem seguir os conselhos das pessoas mais cultas e experimentadas do Estado. Mas isso não nega de maneira nenhuma o direito dos cidadãos médios expressarem a sua opinião cada vez que a ocasião se apresentar. Desta maneira, cada cidadão do Estado Islâmico, seja qual for a sua qualidade, tem a obrigação de participar ativamente na solução dos assuntos públicos.
A história do Islam fornece exemplos autênticos de governadores e califas interrogados, aconselhados e corrigidos por gente do povo, tanto homens como mulheres. O princípio da consulta mútua é essencial no Islam, de modo que cada um deve expressar livremente a sua opinião, com toda a sinceridade e eficácia, no serviço dos interesses supremos da sociedade. A aplicação dos métodos consultivos na política ou em qualquer outro domínio semelhante é não apenas uma fórmula democrática de governar, mas também um mandamento religioso e um dever moral que tanto obriga os governantes como os súditos. Além de ter praticado constantemente este princípio, o Profeta disse que o bom conselho é uma parte essencial da religião.
A finalidade de tal conselho é garantir o cumprimento da Lei de Allah (سبحانه و تعالى), o respeito dos direitos dos cidadãos e a execução das suas obrigações. Para prevenir a ascensão dos políticos profissionais e neutralizar os oposicionistas crônicos, o Profeta(صلى الله عليه وعلى آله وسلم), ao referir-se à autoridade de Allah (سبحانه و تعالى), disse que quem falar seja para dar conselhos, seja para qualquer outro fim tem que dizer coisas boas e corretas; senão, o melhor é calar. Isso para advertir os aconselhadores do perigo das inclinações egoístas ou das tentações individualistas; e também para garantir que o conselho seja dado com as intenções mais sinceras, tendo sempre em conta os interesses supremos do povo. O fato de um governante pedir conselho e de os governados o darem não é uma questão de opção ou uma medida voluntária. É sim um artigo de Fé, um mandamento religioso. Ao próprio Profeta (صلى الله عليه وعلى آله وسلم), Allah (سبحانه و تعالى) lembrou essa conduta, através do seguinte versículo:
“Pela misericórdia de Allah, foste gentil para com eles; porém, tivesses tu sido insociável ou de coração insensível, eles se teriam afastado de tu Portanto, indulta-os implora o perdão para eles e consulta-os nos assuntos (do momento). E quando te decidires, encomenda-te a Allah, porque Allah aprecia aqueles que (a Ele) se encomendam.” (Alcorão Sagrado 3:159)
Ao enumerar as qualidades exigidas aos fiéis, o Alcorão menciona claramente o conselho mútuo como Artigo de Fé:
“Tudo quanto vos foi concedido (até agora) é o efêmero gozo da vida terrena; no entanto, o que está junto a Allah é preferível e mais perdurável, para os fiéis que se encomendam a seu Senhor. São aqueles que as abstêm dos pecados graves e das obscenidades e que, embora zangados, sabem perdoar. Que atendem ao seu Senhor, observam a oração, resolvem os seus assuntos em consulta e fazem caridade daquilo com que os agraciamos. E que, quando são afligidos por um erro opressivo, sabem defender-se." (Alcorão Sagrado 42:36 ao 39)
10 - Dentro do sistema político do Islam, cada cidadão tem o direito de beneficiar-se da liberdade da crença e da consciência, assim como da liberdade do pensamento e da expressão. Ele tem a liberdade de concorrer, ganhar e possuir, aprovar e desaprovar, segundo o seu bom senso. Mas a sua liberdade dentro da responsabilidade, não é nem pode ser absoluta. Tal liberdade é garantida pela Lei de Allah (سبحانه و تعالى) e governada por esta mesma Lei. Desde que a liberdade esteja em conformidade com esta Lei, ela constitui o privilégio legítimo de cada cidadão; mas se ultrapassar os limites da Lei Divina ou se contrariar os interesses da coletividade constituirá um caso de transgressão da Lei, e portanto terá que ser controlada.
O indivíduo é parte do Universo, portanto terá que se submeter à Lei e à ordem de Allah (سبحانه و تعالى), Lei pela qual se rege todo o Universo. Por outro lado, o indivíduo é membro da sua comunidade ou nação, e deve adaptar os seus próprios direitos e interesses aos dos outros, de maneira reciprocamente proveitosa. Se o indivíduo adotar uma atitude independente sobre um determinado assunto de interesse público, e descobrir que a maioria manifesta outra atitude, então terá que se juntar à maioria em nome da solidariedade e da cooperação, na condição de que a decisão da maioria não seja contrária à Lei de Allah (سبحانه و تعالى). No entanto, no processo de formação da opinião pública, ele tem todo o direito de expressar a sua própria opinião e persuadir os outros das suas convicções, sem produzir confusões ou distorções. Mas quando verificar que a maioria optou por uma decisão diferente, terá que se submeter, porque o assunto respectivo deixa de ser objeto de consideração e deliberação individual, para se tomar projeto de realização pública. Diz Allah (سبحانه و تعالى):
“Ó fiéis, temei a Allah, tal como deve ser temido, e não morrais, senão como muçulmanos. E apegai-vos, todos, ao vínculo com Allah e não vos dividais; recorda-vos das mercês de Allah para convosco, porquanto éreis adversários mútuos e Ele conciliou os vossos corações e, mercê de Sua graça, vos convertestes em verdadeiros irmãos; e quando estivestes à beira do abismo infernal, (Allah) dele vos salvou. Assim, Allah vos elucida os Seus versículos, para que vos ilumineis. E que surja de vós uma nação que recomende o bem, dite a retidão e proíba o ilícito. Esta será (uma nação) bem-aventurada. Não sejais como aqueles que se dividiram e discordaram, depois de lhes terem chegado as evidências, porque esses sofrerão um severo castigo.” (Alcorão Sagrado 3:102 ao 105)
“E obedecei a Allah e ao Seu Mensageiro e não disputeis entre vós, porque fracassarieis e perderíeis o vosso valor. E perseverai, porque Allah está com os perseverantes.” (Alcorão Sagrado 8:46)
11 - 0 exercício governamental do Estado Islâmico é um cargo público, confiado aos administradores pela palavra de Allah (سبحانه و تعالى), assim como pelo consenso do povo. Como Allah (سبحانه و تعالى) é o Soberano Supremo do Estado, quem o representar no cargo governamental terá que ser fiel à Autoridade que lhe confiou o respectivo cargo, isto é, deve crer em Allah (سبحانه و تعالى). E como a maioria do povo é muçulmana, quem assumir a presidência do governo do Califado terá que ser um verdadeiro muçulmano. Tais medidas foram tomadas para servirem o interesse comum e cumprirem todas as obrigações do Estado para com Allah (سبحانه و تعالى) e para com os cidadãos igualmente, não esquecendo os direitos das chamadas minorias religiosas ou raciais. Infelizmente para a humanidade, este princípio governativo do Islam tem sido mal compreendido e gravemente deformado. A verdade é que este sistema não admite qualquer tipo de discriminação contra as minorias; antes pelo contrário, afirma e protege os direitos delas. Quem quiser ser cidadão do Estado Islâmico será bem recebido, contanto que respeite as leis; neste caso, compartilhará os deveres e as prerrogativas de qualquer cidadão responsável. O fato de não ser muçulmano não lhe degrada a posição, nem lhe confere cidadania de segunda classe, desde que obedeça à Lei comum do Estado e seja capaz de exercer os seus direitos com toda a responsabilidade. Por exemplo, se quiser pagar a taxa religiosa (Zakat) e outras taxas estatais, tal como fazem os cidadãos muçulmanos, para consolidarem o Estado e receberem dele, em troca, a garantia da própria segurança e bem-estar, é livre de fazê-lo. Mas se achar que o pagamento do (Zakat) é humilhante para a sua dignidade, prejudicial para os seus sentimentos pela razão de não ser muçulmano, ele poderá pagar os impostos sob outra forma, conhecida como “tributo” ou “jizía” beneficiando, portanto de uma possibilidade de opção que os próprios muçulmanos do Estado respectivo não têm. Em recompensa das suas contribuições ao Estado, ele tem todo o direito à proteção e segurança que os representantes do Estado e a sociedade lhe garantem.
Igualmente, se tal cidadão quiser reger a sua vida pessoal casamento, divórcio, comida, herança, etc. Pela Lei Islâmica, o seu desejo deve ser reconhecido e os seus direitos respeitados. Mas se quiser tratar desses assuntos conforme os mandamentos da sua própria religião, tem liberdade absoluta para fazêlo, e ninguém poderá impedir o exercício dos seus direitos a este respeito. Portanto, nos assuntos pessoais ou sentimentais, poderá recorrer aos seus próprios preceitos ou às normas públicas. Mas nos assuntos de interesse público e negócios correntes terá que se reger pelas Leis do Estado, pela Lei de Allah (سبحانه و تعالى).
Seja qual for a sua opção, ele terá o mesmo direito à proteção e segurança como qualquer outro cidadão. Tudo isso não é um sonho com um reino celeste que ainda se faz esperar. E sim o mandamento do Alcorão, a prática do Profeta Muhammad (صلى الله عليه وعلى آله وسلم) e um fato registrado pela história do Islam. Um exemplo claro, certa vez Umar Ibn Al-Khattab (رضي الله عنه), o segundo Califa, passou um dia por um lugar onde viu um velho judeu num estado lamentável. Umar travou conversa com o homem e soube da condição dele. Num tom de amargura, disse ao homem: “Quando andavas bom, nós cobramos os teus tributos (taxas). Agora todos te abandonaram. Umar tem sido bem injusto para contigo!” Uma vez feita esta observação, Umar ordenou uma pensão vitalícia para o velho e a ordem foi executada.
Umar (رضي الله عنه) e os outros califas seguiram a orientação política que aprenderam do Profeta Muhammad (صلى الله عليه وعلى آله وسلم), que por seu turno seguiu os mandamentos de Allah (سبحانه و تعالى). Estes mandamentos encontram-se no Alcorão, em versículos tais como:
“Allah nada vos proíbe, quanto àquelas que não nos combateram pela causa da religião e não vos expulsaram dos vossos lares, nem que lideis com eles com gentileza e eqüidade, porque Allah aprecia os equitativos. Allah vos proíbe tão-somente entrar em privacidade com aqueles que vos combateram na religião, vos expulsaram de vossos lares ou que cooperaram na vossa expulsão. Em verdade, aqueles que entrarem em privacidade com eles serão iníquos." (Alcorão Sagrado 60:8-9)
Finalmente, seria um erro flagrante comparar-se o Estado Islâmico e a sua necessidade de ser dirigido por um muçulmano, com o Estado leigo, em que é teoricamente concebível que o chefe pertença a um grupo minoritário. A comparação é errônea e desconcertante por várias razões.
Em primeiro lugar, supõe que o secularismo, que de qualquer forma é superficial, seja mais sólido do que a ideologia islâmica. Tal afirmação ou premissa seria bem ambiciosa.
Em segundo lugar, os deveres e os direitos do Chefe de um Estado Islâmico diferem em grande medida dos que cabem aos seus homólogos da ordem secular, tal como foi acima mencionado.
Em terceiro lugar, o espírito secular moderno é em grande medida uma restituição redentora e apologética, o que se não verifica no Islam. Além disso, o Chefe de um Estado secular, se tal Estado pudesse existir, pode pertencer a uma minoria racial, étnica ou religiosa. Mas terá quase sempre que aderir a um partido da maioria. Isso significa de fato a substituição de uma maioria religiosa por uma política, o que não melhora de nenhuma maneira a situação da minoria propriamente dita. Igualmente, a ordem secular no seu conjunto supõe que a chefia do Estado é um direito ou um privilégio que pode ser concedido ou negado ao indivíduo. Aposição do Islam a este respeito é totalmente diferente. No Islam, a Chefia do Estado é sobretudo uma obrigação, um compromisso extremamente difícil, uma responsabilidade muito grande. Portanto, seria injusto o Islam impor tais responsabilidades aos não muçulmanos.
E Allah sabe Mais e melhor!
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