Quero apresentar os meus sinceros agradecimentos à Prefeitura do Maricá por ter
designado esse dia para homenagear a comunidade árabe do Brasil. Maricá será a
primeira cidade do país a comemorar o Dia Nacional da Comunidade Árabe no Brasil.
Essa homenagem denota a nobreza do Brasil, como governo e povo.
Prezadas Senhoras, prezados Senhores:
A história da comunidade árabe no Brasil é antiga e retorna à história do
descobrimento, pois as fontes narram a participação de muitos marinheiros árabes e
muçulmanos que orientaram os navios portugueses na direção do Brasil. Nomes como
de Chuhabiddin Ibn Májid e Mussa Ibn Sáti’ são muito citados de terem acompanhado
Cabral na sua Viagem de Descobrimento, sem citarmos a influência da civilização árabe
sobre Portugal onde permaneceram durante cinco séculos e sobre a Espanha onde
permaneceram sete séculos. Isso se traduziu em influência em todos os aspectos
culturais dentro do Brasil. Osmar Vladimir Chuhfi, o ex-Secretário Geral das relações
exteriores brasileiras na introdução do livro: “Mundo Novo na Linha do Equador”, de
autoria do sociólogo Gilberto Freire: “A análise do livro apresentará provas da
importância da colaboração dos árabes na formação do cidadão brasileiro. A sua
presença na Península Ibérica desde o Século nove, confirma que os árabes, os
marroquinos, os berberes e os muçulmanos participaram também do descobrimento
dessa nova terra a bordo das naus portuguesas. Imediatamente se tornaram uma parte
inseparável desse novo nacionalismo.”
O árabe não é uma raça, mas uma cultura e ciência. Esse é o motivo do advento do
Islam, ou seja, a divulgação do conhecimento, da cultura, da liberdade, da fraternidade e
da igualdade. O Mensageiro de Deus, (Que Deus lhe conceda graça e paz) disse: “O
árabe não constitui pai nem mai de nenhum de vocês. O árabe é a língua. Quem falar o
árabe é árabe.”
Essa terra reagiu e se harmonizou com os muçulmanos que os portugueses
trouxeram como escravos para a agricultura. Aqueles escravos, na realidade, eram
senhores nas suas terras. Eram povos que sabiam ler e escrever, ao contrário de seus
amos. Os livros da história brasileira nos narram que os amos que queriam enviar cartas
para outro amo, encarregava o escravo para escrevê-la e para lê-la. Aqueles
muçulmanos sabiam falar e escrever a língua árabe. Há muitos documentos no museu
histórico da Bahia que comprovam isso.
Posteriormente, as emigrações modernas da Síria, do Líbano, do Egito, da
Palestina e de muitos outros países árabes, que enviaram muitos dos seus filhos à
procura de um futuro melhor nesse país abençoado, formando uma parte inseparável
dele, colaborando na construção de seu presente e futuro.
As instituições árabes e islâmicas do Brasil primam em afirmar a cada um que
para cá vem para que seja um cidadão útil, trabalhador, empreendedor e desenvolvedor
de si mesmo e dos que estão ao seu redor. Pregamos que sejam verazes nas suas
relações, detentores da moral islâmica.
O Islam como religião, reconhece todas as outras religiões e prega com toda
franqueza a Unicidade de Deus, e o afastamento dos politeístas. O Islam reconhece
todas as outras religiões celestiais, acredita em todos os profetas e mensageiros, e em
todos os livros revelados.
A religião do Islam, entre outras virtudes, prega o respeito à mulher,
recomendando a sua elevação, considerando-a irmã do homem e tem a mesma
responsabilidade que ele possui. O Islam recomendou a respeitarmos o vizinho com tal
ênfase que o Profeta Muhammad (S) pensou que fosse incluindo entre os herdeiros. O
Islam que respeito todas as criaturas, recomendando bondade aos animais, tornando o
dar de beber a um cão um motivo para o ingresso no Paraíso, e o vedar uma gata de
comer um motivo para o castigo no Inferno. O Islam que respeita o meio-ambiente,
veda o corte das árvores, o desmatamento, o causar danos às pessoas nas vias públicas,
o remover as coisas que causam dano dos caminhos um motivo para o aumento da fé do
indivíduo.
O Islam tornou a procura do conhecimento uma obrigação para todo muçulmano e
muçulmana. Isso gerou cientistas muçulmanos que se destacaram em muitos campos da
ciência, como medicina, zoologia, astronomia, agricultura, química meteorologia,
matemática, farmacologia, arquitetura, comércio, estratégia de guerra e literatura.
O mundo do Islam tornou-se um formidável centro cultural e científico. A mais
velha universidade ainda em uso é a Universidade de Fés, no Marrocos. Na Idade Média
foi o centro das pesquisas científicas. Os árabes introduziram o papel na Europa e
inventaram o arco ogival, sem o qual os europeus não poderiam ter construído suas
catedrais góticas. Eles enviaram o damasco, arroz e açúcar para a Europa. "O Cânon da
Medicina", de Ibn Sina (Avicena) e "Sobre Varíola e Sarampo", de Al Razi, foram os
livros padrões da profissão médica por 800 anos aproximadamente. Ibn al Baytar
escreveu um livro sobre medicina, "Simplices", que continuou sendo impresso na
Europa, aproximadamente, mil anos depois. No século nove Ibn Firnas, o verdadeiro pai
da aviação, construiu um aparelho e nele voou. Por volta do ano 1000 d. C., Al Biruni
mediu o perímetro da terra dentro da precisão de centímetros da mais exata medição
moderna, e estabeleceu a rotação da terra ao redor de seu eixo. Os numerais arábicos (1,
2, 3, ...) substituiram os algarismos romanos (I, II, III, ...) de dificílimo manuseio para o
cálculo.
Convocamos daqui a todos a adquirirem maior conhecimento sobre a civilização
árabe islâmica. É um convite para se conhecer o Islam mais amiúde e descobrir os seus
tesoures.
Os árabes e os muçulmanos estão sofrendo ataques injustos que todos nós
devemos em conjunto combater e eliminar.
Devemos mostrar o papel de desataque que os árabes e os muçulmanos
desempenham no mundo.
Agradecemos novamente a municipalidade do Maricá por essa oportunidade e
temos a esperança que haja mais encontros desses para o diálogo e o esclarecimento
entre os nossos intelectuais. Isso só pode gerar maiores esperanças por um futuro
melhor para o nosso amado Brasil.
Maricá Em 25/03/2009
Sheikh.Khaled Taky Eldin
Ministro Religioso
* A homenagem aos povos criadores da álgebra e que trouxeram ainda outras inestimáveis contribuições à ciência e às artes, foi instituída pela Lei 11.764, de 5 de agosto de 2008. A data de 25 de março reverencia ao mesmo tempo o dia da promulgação da 1ª constituição brasileira, em 1824, e a rua do mesmo nome, em São Paulo, conhecida pela força do comércio e onde a colônia árabe tem expressiva participação.
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