segunda-feira, 11 de abril de 2016

Ciências Específicas da Lei Islâmica (Segunda Parte)

Os estudiosos do Hadith estabeleceram determinados termos para descrever narradores, para distinguir entre os níveis de suas narrações em termos de aceitação e rejeição. Esses termos são os seguintes:
Primeiro: Termos de Al-Tawthiq ou al-Ta'dil
1- Termos utilizados para tawthiq (confiabilidade) em demazia, utilizando o superlativo, tais como a mais confiável das pessoas, a mais exato das pessoas.
2- Termos nos quais a qualificação de tawthiq é repetida, como "thiqatun thiqa" (muito confiável) ou "thiqatun Hafidh" (confiável e memorizador).
3- Em que as palavras de tawthiq são citadas uma vez, como "thiqah" (confiável), thabt (memorizador com exatidão), imam, hujjah (referência). Ou os termos se repetiram, porém com significado único: justo e memorizador.
4- Termos nos quais é citado: "nenhum problema com ele", tais como aqueles usados por Ibn Ma'in[1], ou saduq (muito honesto).
5- Termos nos quais dizem: É fonte de confiança ou não é distante da verdade, sheikh, veraz que tem erros, veraz inshallah (com a permissão de Allah), espero que não tenha problema, não conheço problema com ele, homem de bom Hadith.
Para julgar estas categorias, se um narrador é descrito com uma das três primeiras categorias, suas narrações são “sahih”, e uns são mais autênticos que os outros. Quanto aos narradores da quarta categoria, os seus Hadith são “hasan”, enquanto os da quinta categoria, o seus Hadith não são narração, mas são escritos para consideração. Se houver concordância com outros são aceitos, caso contrário, são rejeitados.
 
Segundo: Termos de al-Jarh (crítica)
1- Descrição que prova demásia na crítica. O termo mais claro é o superlativo, por exemplo: "O maior de todos os mentirosos" (akdhab al-nas). Outro exemplo: é um pilar da mentira.
2- Sobre quem foi dito: inventor, mentiroso, forja o Hadith, inventa o Hadith, ou “não é nada” na terminologia de Asshaf’i.
3- Quem foi descrito como: acusado de mentira, ou invenção, rouba o Hadith, seu Hadith é abandonado, não é de confiança, etc.
4- Quem foi descrito como: seu Hadith foi rejeitado, muito fraco, não permitido transmitir dele, munkar al Hadith (para al Bukhari),etc.
5-Quem foi descrito como: da'eef (fraco), o classificaram fraco, munkar al Hadith (além de al-Bukhari) ou mudtarib al-Hadith (de Hadith instável) ou não recomendado como um narrador.
6-Quem foi descrito como: tem opinião (negativa) sobre ele, nele tem fraqueza, não é forte, não é referência, tem má memória, maleável, etc.

Nas quatro primeiras categorias, não é aceita a narração de nenhum de seus membros. Os muçulmanos não podem receber Hadith a partir deles e não são considerados. Os Hadith dos narradores da primeira e segunda categorias são considerados Maudu (forjados), enquanto o Hadith dos narradores classificados na terceira categoria são considerados Matruk (abandonados), e o Hadith narrados pelos narradores classificados na quarta categoria são dha’if jiddan (muito fracos). E o Hadith narrado pelas quinta e sexta categorias são escritos para consideração, e pode ser promovido a Hasan se os seus caminhos (de transmissão) se diversificarem (se for narrado por diferentes linhas (de transmissão))[2].
Assim, os estudiosos assimilaram bem os resultados de seus estudos de narradores em seus livros sobre a Al-Jarh wa al-Ta'dil. Eles colocaram os narradores fracos (Da'if) em livros chamados "Al-Dua'afa", "Al-Dua'afa al-Kabir" e "Al-Dua'afa al-Saghir" (de autoria de Al-Bukhari) e "Al-Dua'afa wa Al- Matrukin" (de Al-Nassai'i)[3]. Eles também colocam os narradores confiáveis (thiqat) em livros denominados "Al-Thiqat", como "Al-Thiqat" compilado por Ibn Hiban). Há também livros que reúnem narradores fracos e confiáveis, tais como "Al-Tabaqat al-Kubra" (Ibn Saad) e "Al- Takmil fi Marifat al-Thiqat", "Al-Dua'afa wa Al-Majahil" (escrito por Al-Hafiz Ibn Kathir)[4].
Tudo isso revela os esforços empreendidos pelos estudiosos muçulmanos para documentar e autenticar a Sunnah e proteger os ditos do Profeta (a paz esteja com ele). Eles não deixaram pedra sobre pedra, não deixaram nenhum caminho para definir a credibilidade da Sunnah sem trilhá-lo e criaram essa ciência, que é considerada exclusiva da nação muçulmana, não existindo ciência similar na história humana antiga nem moderna.
Assim, foram compilados os livros al Sihah (de ahadith autênticos) – os seis livros famosos e outros -, em seu topo Sahih Al-Bukhari e Muslim, que são os livros mais autênticos conhecidos em toda a história.

3- A ciência dos fundamentos da jurisprudência:
Quando se refere aos grandes feitos da civilização islâmica é imprescindível mencionar a ciência dos fundamentos da jurisprudência, esta ciência que somente a nação muçulmana tem. Nenhuma nação anterior teve e nenhuma nação posterior terá uma disciplina independente, como a ciência dos princípios da jurisprudência islâmica, em sua integração e sua precisão, com as quais é capaz de definir suas regras e estatutos.
Esta ciência, como Ibn Khaldun mencionou, tem sua origem no Islam. É considerada uma das maiores e mais importantes ciências religiosas e uma das disciplinas mais úteis. Ela significa: A observação das provas da lei religiosa a partir das quais se assimilam as leis e as obrigações[5]. Em outras palavras: O conhecimento das bases e das provas com as quais chegamos às regras religiosas.
O objetivo da criação deste grande ciência é servir o Islam e servir as suas regras que organizam o comportamento opcional das pessoas. Esta ciência surgiu quando discussões sobre a consideração de alguns jurisprudentes no estabelecimento de regras religiosas ou na sua assimilação conforme algumas metodologias e princípios que eram divergidos por outros. Então, era necessário estabelecer argumentos e provas religiosamente aceitos para autenticar o que é autêntico, e para escolher o que mais provável quando há certa divergência na opinião. Então, surgiram os primeiros manuscritos em forma de mensagens, contendo regras fundamentais do que deve ser considerado uma diretriz básica, do que é permitido considerar e do que não é permitido considerar e se apoiar sobre ele como diretriz[6].
Al Imam Abu Abdullah Muhammad ibn Idris ash-Shafi'i é considerado o primeiro autor de um livro sobre usul al-Fiqh (fundamentos da jurisprudência). Ele é o fundador desta disciplina e quem elaborou os seus princípios. Ele é autor de vários livros da disciplina, entre eles o seu famoso livro "Al-Risalah, "Juma al Ilm", "Ibtal Al-Istihsan", "ikhtilaf al-hadith".
Ibn Khaldun disse: "O primeiro a escrever sobre o assunto foi ash-Shafi'i. Ele ditou a sua famosa Risalah (mensagem), na qual ele discutiu as ordens e as proibições, os textos, as ab-rogações, a regra do motivo indicado no texto em relação à analogia. Mais tarde, os juristas Hanafis escreveram sobre o assunto e sobre a derivação das normas das questões da jurisprudência, na medida do possível. Um de seus principais estudiosos, Abu Zayd ad-Dabusi[7], escreveu mais extensamente sobre o raciocínio analógico do que qualquer outro estudioso. Ele completou os métodos de pesquisa e condições que regem esta disciplina. Assim, a técnica dos princípios da jurisprudência foi aperfeiçoado, as suas questões foram refinadas e as suas regras básicas foram estabelecidas. Os estudiosos também se ocuparam com os métodos dos teólogos especulativos (al mutakallimin). Dentre os melhores livros escritos por teólogos sobre o assunto: Kitab al-Burhan, por Imam al-Haramayn Al Juaini, Al Mustasfa, por al-Ghazali (falecido em 505 dH). Ambos os autores foram Ash'ari. Havia mais dois livros, o Kitab al-'Ahd por Abd-alJabbar[8], e os comentários sobre ele, intitulado al-Mu'tamad, por Abul-Husayn al-Basri[9]. Ambos os autores foram Mu'tazilah. Estes quatro livros foram as obras de base e pilares desta disciplina. Eles foram posteriormente resumidos por dois excelentes teólogos mais recentes, o imam Fakhr-addin Ibn al-Khatib (falecido em 606 dH), em seu livro Al-Mahsul, e Sayf-ad-din al-Amidi[10], em seu livro al-Ihkam[11].
Os estudiosos muçulmanos de diferentes escolas de fiqh deram o seu melhor para extrair e elaborar fundamentos principais que definem o método do jurista (faqih) que se dirige para a extração da regras para o comportamento humano a partir das fontes da legislação islâmica, para que o trabalho dos estudiosos que extraem as regras não seja desordenado, que não observa qualquer regra estudada. Devido a essa orientação, nasceu a ciência de usul al-fiqh, uma ciência extremamente profunda e racional e que é muito perspicaz na descrição das regras fundamentais e no esclarecimento do sistema que deve ser seguido por quem extrae as regras. Assim se originou esta ciência, enquanto nenhuma outra nação jamais teve ciência similar[12].
Aqueles que escrevem as leis com base em opiniões humanas e conforme os seus interesses pessoais e os seus caprichos elogiaram a glória da ciência de “usul al fiqh” entre os muçulmanos. Eles, aliás, se beneficiaram de alguns dos seus princípios em seus estudos sobre o léxico, a analogia, al masalih al mursalah (apreciação de interesse público) e também fizeram uso de algumas das cinco faculdades, cuja preservação é considerada dos objetivos da lei islâmica: a fé, a vida, a razão, a descendência e a riqueza. Qualquer coisa que preserva essas necessidades ou alguma delas é considerado um interesse/benefício (maslahah) e tudo que falta com uma delas é considerado um prejuízo (mafsadah), e há diferentes classes e níveis entre elas, alguns considerados da classe das necessidades primárias (al dharuriyat), que é a classe superior e tem vários níveis. Há também a classe das necessidades (al hajiyat), que é a classe mediana e tem níveis variados, e também a classe das superfluolidades (al tahsiniyat), que é a classe mais baixa e tem também diversos níveis[13].
Assim, a ciência de usul al-fiqh é uma invenção islâmica e um grande fenômeno da civilização.
Por: Dr. Ragheb Elsergany

[1] Yahia Ibn Ma'in: Abu Zakariyah Yahi Bin Ma'in A'un bin bin bin Ziyad Bastam bin Abdul Rahman Al-Miri Al-Bughdadi (158-233 AH/755-848 AD), ele é um famoso Hafiz imã. Olha Khilkan Ibn: Wafiyat A'ayan Al-6 / 139. Al-Zirikli: Alalam 8 / 172, Look: Mahmud al-Tahan: Mustalah Taysir Al-Hadith, p. 116-118.
[2] Veja: Mahmud Al-Tahan: Taissir Mustalah al-Hadith, p 116-118.
[3] Al Nassai'i: Abu Abdul Rahman Ahmad ibn Shuaib ibn Ali Al-Khursani (215-303 dH/830-915 dC), um dos famosos imams da ciência do hadith e um escritor da Sunnah. Ele nasceu em Khurasan e morreu em Makkah. Veja: Al-Zahabi: Siyar Nubala Al A'lam 14/125.
[4] Veja: Deus Daif Muhammad Al-Batayna: Civilização Islâmica, p. 323, Mahmud al-Tahan: Taysir Al-Hadith Mustalah, p. 115-116.
[5] Ibn Khaldun: al-Ibar wa Diwan A-Mubtada wa Al-Khabar 1 / 452.
[6] Abd Al-Rahman Hassan Habannakah: A Civilização Islâmica, p 518, 520.
[7] Ad-Dabusi: Ele é Abu Zayd Abdullah bin Umar bin Isa (430 AH/1039 AD), ele é um dos jurisprudents sênior Hanafi eo primeiro autor de um livro sobre a disciplina de diferenças. Ele nasceu em Dabbusiyah (entre Bukhara e Samarcanda). Ele morreu em Bukhara. Look: Khalkan Ibn: Wafiyat Al-A'yan 3 / 48.
[8] Abd-Al-Jabbar: Ele era um desembargador. Ele é bin Abd-Al-Ahmad Al-Jabbar Hamazani (415 dH/1025 dC). Ele era um jurisprudenciais sênior da escola Shafi'i. Ele foi o xeque muatazalah durante o seu tempo. Ele foi nomeado desembargador em Al-Ri, onde morreu. Ele tem muitos livros famosos como "Tanzih Al-Quran A'n Al-Mata'in ', olhe: Al-Zahabi: Al-Alam Siyar Nubala 17/244, 245.
[9] Abul-Husayn Al-Basri: Ele é Muhammad bin Ali Al-Tayib (436 AH/1044 dC), um dos imãs Mua'tazalah. Ele nasceu e viveu em Basra, em Bagdá, onde morreu. Seu livro famoso é "Al-Mu'tamad em usul Al-Fiqh". Veja: Ibn Khilkan: Wafiyat al A'ayan 4 / 271.
[10] Sayf-ad-Din al-Amidi: Ele é Abu Al-Hasan Ali bin Muhammad bin Salim Al-Taghlubi (551-631 dH/1156/1233 dC), ele era um professor de ciências da lógica, retórica e sensibilia . Ele nasceu em Diyar Bakr e morreu em Damasco. Seu livro famoso é o "Al-fi Ihkam usul Al-Ahkam ', olhe: Al-Zahabi: Al-Alam Siyar Nubala 22/364-36.
[11] Ibn Khaldun: al-Ibar wa Diwan Al-Mubtada wa Al-Khabar 1 / 455.

[12] Abd Al-Rahman Hassan Hanbakah: A Civilização Islâmica, p 519.
[13] Idem: p 520.

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