2. Livros de classes:
A cultura histórica islâmica conheceu os livros de classes muito cedo, tais livros são pertinentes à escrita e autenticidade do hadith, algo que levou à observação dos assanid do hadith (as correntes de transmissão dos ditos do profeta (a paz esteja com ele)) e das condições dos narradores, dando origem à idéia das classes.
Os estudiosos do hadith tiveram de procurar estabelecer critérios para aceitar e autenticar o texto dos ditos do Mensageiro (a paz esteja com ele). Tais critérios basearam-se principalmente na moralidade, honestidade e piedade dos narradores, e adicionaram a isso o seu ambiente familiar, a natureza de sua ligação com o Profeta (a paz esteja com ele), o período que passaram com ele e suas relações com seus companheiros mais próximos e com os califas probos (Al khulafaá Al rashidun). Eles também se concentraram na ocorrência de um encontro real ou possível dos narradores e zelaram em saber as datas de nascimento e morte de cada um dos narradores mencionados na corrente de transmissão.
Assim, o isnad foi a causa do surgimento das biografias que incluem informações detalhadas sobre cada um dos narradores. Então foi necessário ordenar estes homens em classes sucessivas e concentrar-se na contemporaneidade, nas relações comuns e na natureza de tais relações em busca de uma sequência dos narradores até a fonte, que é o profeta (a paz esteja com ele). Assim nasceu a idéia de classes, que apresentou os indivíduos do sanad sob diversas classificações[1].
Assim, as classes surgiram em muitos campos, entre eles: os livros de classes dos estudiosos do hadith, classes dos memorizadores, classes dos eruditos de fiqh (jurisprudência), classes de Al-Shafia'ia (estudiosos da escola shafi’ia), classes de Al-Hanabila, classes dos recitadores, as classes dos intérpretes do Alcorão, classes dos sufis, classes dos poetas, classes dos estudiosos da gramática árabe e classes dos médicos. Dentre os mais renomados livros de classes: al-Tabaqat al-Kobra (As Grandes Classes), escrito por Mohammad ibn Saad al-Zuhri[2]; Tabaqat al-Shua'raa (As Classes dos Poetas), por Ahmad ibn Salam al-Jumahi[3]; Tabaqat al-Atebaa (As Classes dos Médicos) por Ahmad ibn Abi Usaibaa (falecido em 668 dH), entre outros.
3. Livros biográficos:
São livros enciclopédicos que apresentam as biografias de pessoas famosas que compartilham a característica de fama em seus campos de especialização, incluindo sábios, homens de letras, os líderes, califas, entre outros. Dentre estes livros: Mu’ujam al-Udabaa (Dicionário de Homens de Letras), por Yaqout al-Hamawi (falecido em 626 dH); Usd al- Ghabah Fi Ma’refat al-Sahabah (Leões da Selva na apresentação dos Companheiros (do profeta (a paz esteja com ele))), por Ibn Atheer; Wafiat al-Ayan (Obituário de Dignitários), por Ahmad ibn Muhammad ibn Ibrahim bin Khillikan (falecido em 681 dH), que é um dos livros biográficos mais famosos e um dos melhores em precisão e exatidão; Fawat al-Wafiat (Passagem de Óbitos), por Ibn Shaker al-Kotbi[4]; al-Wafi bil wafiat (O Integral em Óbitos), por Salah Eddin Khalil Al- Safadi[5].
4.Livros sobre as conquistas:
Os livros que trataram das conquista dos países e lugares, como por exemplo: Fotuh Misr wa Al-Magreb wa Al-Andalus" (As Conquistas do Egito, do Oriente e da Andaluzia), por Ibn Abdel-Hakam (falecido em 257 dH); Fotuh al-Buldan (As Conquistas dos Países), por Balazhri[6]; Fotuh Al-Sham (As Conquistas da Assíria), por al-Waqidi[7].
5. Livros genealógicos:
Eles trataram da genealogia e origem dos árabes. Os árabes tinham interesse exlusivo nesta ciência, devido ao fanatismo tribal que era inerente ao período pré-islâmico. Dentre os genealogistas mais famosos: Muhammad ibn al-Sa'eb al-Kalbi, que escreveu "Jamharut al-Nasab" (Coleção de Genealogia); Musaab al-Zubairi[8], que escreveu "Nassabu Quraish" (Genealogia da coraixitas); e Ibn Hazm Al-Andalusi escreveu "Jamharat Ansab al-‘arab" (Coleção da Genealogia dos Árabes).
6. As histórias locais:
São livros históricos que foram dedicados à história de um determinado país com muitos detalhes. Dentren os mais famosos: "Wulat Misr wa Qudatuha" (governantes e juízes do Egito), por Abu Omar al-Kandi[9]; "Tareekh Baghdad" (História de Bagdá), por al-Khateeb al-Baghdadi; "Tareekh Demashq" (História de Damasco), por Ali ibn al-Hasan ibn Asakir, que consistia em oitenta volumes; "al-Bayan al-Mughreb Fi Akhbar al-Maghreb" (O esclarecimento do admirado sobre as notícias do oriente", por Ibn Azhari[10]; "Anujoum al -Zahera fi Muluk Misr wal qahira" (As estrelas brilhantes sobre os reis do Egito e do Cairo), por Jamal Eddin Yussuf ibn Taghri Bardi al-Atabki[11] (falecido em 874 dH).
7. Livros de histórias em geral:
O âmbito de interesse dos historiadores se expandiu, então, ao lado das biografias, surgiram compilações mais amplas e aprofundadas à qual se denomina (histórias gerais), nas quais se escreve a história em ordem cronológica. Nestas obras, o autor narra a história da humanidade desde o início da criação, passando pelas mensagens celestias antes do Islam, período pré-islâmico, a época do Profeta (a paz esteja com ele) e dos califas justos até as histórias islâmicas posteriores. Entre os escritores mais renomados de histórias em geral: Muhammad ibn Jarir al-Tabari, que escreveu "Tareekh Arusul wal muluk" (História dos Mensageiros e dos Reis), mais conhecido como "Tareekh al-Tabari" (História de Al-Tabari); o livro "Muruj al-Zhahab wa ma’den al-Jawhar" (gramados de ouro e fontes de jóias", escrito por Al-Mas'udi, que é um livro enciclopédico; Al-Kamel fi al-Tareekh" (O Completo em História), conhecido como "Tareekh Ibn al-Athir" (História de Ibn al-Athir), escrito por Ezz Eddin Ibn al-Athir, que é uma das fontes mais confiáveis da história islâmica; "al-Bedaya wal nehaya" (O Princípio e o Fim), por Ibn Katheer; "Al-ebar wa diwan Mubtada-al wal khabar fi Ayam al-Arab wal ajam wal barbar waman Asarahum Min Zhawi al-Sultan al-Akbar" (As lições e registro do sujeito e predicado sobre as notícias dos dias dos árabes, não-árabes e berberes, e os seus contemporâneos mais influentes), mais conhecido como "Tareekh Ibn Khaldun" (História de Ibn Khaldun), escrito por Abu Zaid Abdul rahman ibn Muhammad ibn Khaldun[12].
Há também outras formas de escrita histórica, alguns historiadores citaram cerca de mil tipos. Al-Zhahabi citou quarenta tipos de escrita, entre elas: a biografia do profeta, as histórias dos profetas, a história dos companheiros (discípulos), califas, reis, países, ministros, governantes, fuqahá (eruditos e jurisprudentes islâmicos), leitores (do Alcorão), memorizadores, muhaddithun (estudiosos do Hadith), historiadores, gramáticos, literários, linguístas, poetas, adoradores, pessoas piedosas, sufis, juízes, governadores, professores, exortadores, pessoas notáveis, médicos, filósofos e avarentos[13].
Franz Rosenthal[14] diz:. "Não há dúvida de que a quantidade de escritos históricos islâmicos é enorme e que os escritos bizantinos estão estreitamente relacionadas com os islâmicos, mas a história islâmica é mais destacada graças à sua grande variedade e à sua gigante quantidade. Na verdade, podemos duvidar que tenham existido escritos históricos em qualquer lugar no início da história que pode ser equivalente aos escritos islâmicos em quantidade. A escrita da história dos muçulmanos pode ser equivalente aos escritos gregos e latinos em número, mas certamente superam os da Europa e Oriente Médio na Idade Média. Sem dúvida, não é possível esconder a sua excelente posição no movimento islâmico literário dos cientistas ocidentais que tiveram contato com os árabes. Porém, estes cientistas se preocuparam em ciências, filosofia e teologia. Assim como seus contemporâneos muçulmanos comuns, eles não se curvaram a ponto de reconhecer qualquer existência de escritos históricos"[15].
[1] Veja: Muhammad Khair Mahmoud al-Beqa'ai: "al- Ta'alif fi Tabaqat al-Malikia fi al-Turath al-Arabi" (escrita em classes de al-Malikia no patrimônio árabe) ... um estudo explicativo e histórico 258, 259.
[2] Ibn Saad: Abu Abdullah Muhammad ibn Saad ibn Mani' Al-Zhuri (168-230 dH-784-845 dC), um historiador de confiança, memorizador de Hadith, nascido em Bassra e falecido em Bagdá. Um de seus mais famosos livros: "al-Tabaqat al-Kobra". Veja: Ibn Hajar "Tahzheeb Tahtheeb-al" 9 / 161.
[3] Al-Jumahi: Abu Abdullah ibn Muhammad ibn Salam Al-Jumahi (150-232 dH/767-846 dC), uma grande figura literária, natural de Bassra, faleceu em Bagdá. Entre seus livros famosos: "Tabaqat Fohoul al-Shu'ara" (Classes de grandes poetas). Veja: Yaqout al-Hamawi "Mu’jam al-Udabaa" (Dicionário de Literários), p 2541.
[4] Ibn Shakir al-Kotbi: Salah Eddin Muhammad ibn Shaker al-Demashqi (falecido em 764 dH-1363 dC), historiador e pesquisador, conhecedor de literatura, nasceu e morreu em Damasco. Dentre as suas principais obras: "Fawat al-Wafiat". Veja: Ibn al-Emad "Shuzhurat Al-Zhahab" (Fragmentos de Ouro) 6/203-205.
[5] Al-Safadi: Salah Eddin Khalil ibn Aybak ibn Abdullah (696-764 dH/1296-1363 dC), Literário e historiador, Nascido em Safad (na Palestina). Ele foi responsável por diuan Al inshá em Safad, Egito e Aleppo e, em seguida, pela Casa do Tesouro em Damasco, onde morreu. Entre suas obras de destaque: "al-Wafi Bil wafiat" (o obituário). Consulte "Shuzhurat Al-Zhahab" (6/200-203).
[6] Al-Balathri: Ahmad ibn Yehia ibn Jaber ibn Dawoud (falecido em 279 dH-892 dC), historiador, geógrafo, genealogista e poeta. Natural de Bagdá. A mais famosa de suas obras é "Fotouh al-Buldan" (Conquista dos países). Veja al-Zhahabi "Siar A’lam Al-Nobala" (Biografias dos Nobres) 16/36.
[7] Al-Waqidi: Abu Abdullah Muhammad ibn Omar ibn Waqid al-Sahmi (130-207 dH/747-823 dC), um dos mais antigos historiadores no Islam, memorizador de Hadith. Entre os seus livros: Al- Maghazi al-Nabawia (As Batalhas Proféticas) Ver Al-Zhahabi: "Siar A’lam Al-Nobala" (Biografias dos Nobres) 4/348-350.
[8] Musaab al-Zubairi: Abu Abdullah Mussab ibn Abdullah ibn Mussab (156-236 dH/773-851 dC), sábio em genealogia e bem versado em história, Um narrador confiável de Hadith e poeta. Dentre os seus livros: "Nassab Quraish" (Genealogia dos coraixitas). Veja Al-Asfhani: "Shuzhuarat Al-Zhahab" 2 / 86, 87.
[9] Abu Omar al-Kindi: Abu Omar Muhammad ibn Yussuf ibn Yaqoub (283-355 dH/896-966 dC), historiador, o maior especialista na história do Egito, seus habintantes, suas obras e lugares. Entre seus livros de destaque: "al-Wulat wal qudat" (os governantes e os juízes). Veja al-Zarkali, "al-Alam" 7 / 148.
[10] Ibn Azhari: Abu Abdullah Muhammad ou Ahmad ibn Muhammad al-Marrakeshi (falecido em 695 dh/1295 dC), historiador de origem andaluz, natural de Marrakesh. Veja al-Zarkali "al-Alam" 7 / 95.
[11] Ibn Taghri Bardi: Abu al-Mahasin Jamal Eddin Yussuf ibn Taghri Bardi (813-874 dH/1410-1470 dC), historiador e pesquisador, nasceu e morreu no Cairo. Entre os seus livros: al-Nujoum al- Zahera fi Mulouk Misr wal qahera". Veja Ibn al-Emad "Shutzhurat Al-Thahab" 2 / 100.
[12] Rahim Kadhem Muhammad al-Hashemi e Awatef Muhammad al-Arabi: "Al-Hadara Al-arabiya Al-Islamia (A civilização árabe islâmica) página 179-181. E Hekmat Abdul-Karim Furaihat e Ibrahim Yassin al-Khatib: "Madkhal ila Tareekh al-Hadara Al-arabiya Al-Islamia (Introdução à hitória da civilização árabe islâmica).
[13] Veja Rosenthal: Ciência da História entre os muçulmanos p 518-522.
[14] Franz Rosenthal (1914-1975 dC), orientalista americano de origem alemã, lecionou em diversas universidades importantes. Escreveu um livro intitulado “Ciência da História entre os muçulmanos”.
[15] Idem, p 269, 270.
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