quinta-feira, 2 de março de 2023

A história de Abraão (Ibrahim إِبراهيم)

السلام عليكم ورحمة الله وبركاته


بِسْمِ اللَّهِ الرَّحْمَٰنِ الرَّحِيمِ


Um dos profetas que recebe mais atenção no Alcorão é o profeta Abraão. O Alcorão fala dele e de sua inabalável crença em Deus, que primeiro o levou a rejeitar seu povo e sua idolatria e que mais tarde se provou verdadeira através dos vários testes que Deus colocou diante dele.


No Islam Abraão é visto como um monoteísta estrito que chama seu povo para a adoração de Deus somente. Por essa crença ele suporta grandes dificuldades, inclusive se dissociando de sua família e povo através da migração para várias terras. Ele cumpriu vários mandamentos de Deus com os quais foi testado.


Devido a essa força de fé o Alcorão nomeia a única religião verdadeira como o “Caminho de Abraão”, apesar dos profetas antes dele, como Noé, chamarem para a mesma fé. Por causa de seu incansável ato de obediência a Deus, Ele lhe deu um título especial de “Khalil”, ou servo amado, que não foi dado a nenhum outro profeta antes. Devido a excelência de Abraão, Deus fez profetas de sua descendência, dentre eles Ismael, Isaque, Jacó (Israel) e Moisés, que guiaram seu povo para a verdade.


O status elevado de Abraão é compartilhado pelo Judaísmo, Cristianismo e Islam. Os judeus o vêem como o epítome da virtude uma vez que cumpriu os mandamentos antes de serem revelados, e foi o primeiro a se dar conta do Único e Verdadeiro Deus. É visto como o pai da raça escolhida, o pai dos profetas através dos quais Deus começou Sua série de revelações. No Cristianismo é visto como o pai de todos os crentes (Romanos 4:11) e sua confiança em Deus e sacrifício são tomados como um modelo para os santos posteriores (Hebreus 11).


Uma vez que Abraão tem tamanha importância, vale à pena estudar sua vida e investigar aqueles aspectos que o elevaram ao nível que Deus lhe deu.


Embora o Alcorão e a Sunnah não dêem os detalhes de toda a vida de Abraão, eles mencionam certos fatos dignos de nota. Como acontece com outras figuras corânicas e bíblicas, o Alcorão e a Sunnah detalham aspectos de suas vidas como esclarecimento de algumas crenças desencaminhadas de religiões previamente reveladas, ou aqueles aspectos que contém certos lemas e morais dignos de nota e ênfase.


sábado, 23 de abril de 2022

A Misericórdia de Allah

السلام عليكم ورحمة الله وبركاته

بِسْمِ اللَّهِ الرَّحْمَٰنِ الرَّحِيمِ

Surah Mariam é uma das minhas Surahs preferidas no Qur’an. Quando me sinto para baixo, triste, ou quando estou prestes a perder esperança, recito a Surah Mariam. A bela fluidez poética da Surah e as suas poderosas histórias e temas trazem esperança e felicidade à alma.

Um dos temas que flui através da Surah Mariam é o tema da misericórdia. Allah menciona a Sua misericórdia várias vezes nesta Surah. O segundo versículo da Surah inicia com um lembrete da sua misericórdia:


“Este é o relato da misericórdia de teu Senhor, para com Seu servo Zacarias…” [Surah Maryam, 19:2]

ذِكْرُ رَحْمةِ رَبِّكَ عَبْدَهُ زَكَرِيَّا

O belo nome de Allah, Ar-Rahman (O Clemente) é repetido sessenta vezes nesta Surah. Sempre que um nome de Allah é mencionado, existe uma razão por detrás disso. Quando um nome é repetido tantas vezes assim, é uma mensagem de Allah. Ele quer que reflitamos nesse nome. A mensagem é que Allah é o Clemente para toda a Sua Criação, e a Sua Misericórdia manifesta-se de formas incríveis.


A Benção de Família

Um outro tema central desta Surah é o que se refere à família. A ligação, sendo que é parte da misericórdia de Allah Ele nos abençoar com familiares que nos ajudam na realização de boas ações:



“… dadivamo-lo [Ibrahim] com Isaque e Jacó. E de cada um fizemos profeta.” [Surah Maryam, 19: 50]


“E, de Nossa misericórdia, dadivamo-lo com seu irmão Aarão, como profeta.” [Surah Maryam, 19: 53]

Familiares virtuosos são uma benção de Allah. Allah abençoou o Profeta Zakariya (que a paz esteja com ele) com um filho milagroso, Yahia. Abençoou Mariam com um filho milagroso, ‘Issa (que a paz esteja com ambos). Abençoou o Profeta Ibrahim (que a paz esteja com ele) com os seus filhos e um neto que eram profetas. Abençoou o Profeta Mussa (que a paz esteja com ele) tornando o seu irmão um profeta.

Tudo isso é benção de Allah, que Ele concedeu aos Seus profetas, a partir da Sua Misericórdia. Do mesmo modo, nas nossas vidas, existem pessoas que nos ajudam, apoiam-nos, mostram-nos o caminho certo, e assistem-nos em fazer boas ações. Estas pessoas são trazidas nas nossas vidas através da misericórdia de Allah.

A próxima vez que olhar para os seus familiares e amigos, agradeça a Allah pela Sua Misericórdia e por abençoá-lo com tais pessoas na sua vida.


Fonte: http://abumuawiyah.com/surah-maryam-allahs-mercy/

A Verdadeira Vida Ainda Está por Vir


السلام عليكم ورحمة الله وبركاته

بِسْمِ اللَّهِ الرَّحْمَٰنِ الرَّحِيمِ


وَلاَ تَحْسَبَنَّ اللَّهَ غَافِلاً عَمَّا يَعْمَلُ الظَّالِمُونَ إِنَّمَا يُؤَخِّرُهُمْ لِيَوْمٍ تَشْخَصُ فِيهِ الأَبْصَارُ

"E não creiais que Allah está desatento a tudo quanto cometem os iníquos. Ele somente os tolera, até ao dia em que seus olhos ficarão atônitos". [Surah Ibrahim 14:42]


Esta Vida

Muitas vezes, observamos as vidas daqueles que desobedecem Allah, e aqueles que rejeitam o Islam, e perguntámo-nos o porquê de eles terem vidas muito mais felizes que nós. Frequentemente parece que os crentes enfrentam provações atrás de provações, enquanto que muitos tiranos e descrentes vivem uma existência paradisíaca.

Não devemos nunca nos iludir por estas coisas. Esta é a vida mundana, não a verdadeira vida. A verdadeira vida ainda está por vir, e é eterna. Quão maravilhoso ou aterrador que a vida eterna dependa daquilo que fazemos com a nossa vida presente. Demasiadas vezes, ficamos apegados aos slogans modernos como ‘pode viver a vida dos seus sonhos’ e ‘pode ser feliz se possuír isto’. Estes slogans podem muitas vezes iludir uma pessoa em pensar que a felicidade reside no materialismo, o que não é verdade.

A verdade é que esta vida é um campo de testes. Por vezes somos testados com coisas boas. Outras vezes somos testados com aflições. Em tempos de facilidade, o teste é permanecer focado na Outra Vida e em ser grato a Allah. Em tempos de dificuldade, o teste é permanecer paciente e confiar em Allah para nos ajudar a encontrar uma saída.

A Verdadeira Vida

Nunca devemos esperar que a vida seja perfeita ou livre de provações. Isto não é para nós neste mundo. A nossa vida neste mundo passará por fases. Com frequência, as fases boas excedem as más. Ainda assim, devemos ser vigilantes e preparados para lidar com testes quando acontecem. A verdadeira vida para o crente é no Paraíso, até lá somos estudantes submetidos a um teste e este mundo é a nossa sala de exame.

A próxima vez que vir um tirano a desfrutar bilhões de doláres e todos os prazeres Haraam da Dunya, não pense que Allah não está ciente do que fazem. Um dia, olharão espantados com horror quando se aperceberem que terão de responder ao seu Senhor pela forma como viveram as suas vidas. Em vez de focar-se nas suas vidas, foque-se em se esforçar no caminho para o Jannah. Isto é o mais importante.

Fonte: AbuMuawiyah.Com

segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

O Hijab e os Direitos das Mulheres Muçulmanas (no Afeganistão – Parte I)


السلام عليكم ورحمة الله وبركاته

بِسْمِ اللَّهِ الرَّحْمَٰنِ الرَّحِيمِ


Parte I

Afeganistão

Por décadas, o conceito de protecionismo feminino no Islam atraiu muita atenção da mídia ocidental. Como um símbolo do fenômeno do “choque de civilizações” – o código de vestimenta da mulher muçulmana muitas vezes leva à histeria coletiva no Ocidente e no Oriente, com cada parte absolutamente convencida de que mantém os direitos das mulheres muçulmanas na mais alta consideração. Dentro das sagradas doutrinas do Islam – o Alcorão e os ensinamentos proféticos (Sunnah) – existem códigos de vida que servem para proteger o papel feminino na sociedade. Esses códigos variam de critérios de vestimenta a limitações de movimento. No Ocidente, esses regulamentos encontrados nas fontes divinas do Islam foram ridicularizados como formas de opressão feminina. No entanto, os estados muçulmanos não fizeram muito para amenizar esses temores; pelo contrário, esses estados têm os piores antecedentes no que diz respeito aos direitos das mulheres. Como resultado, as leis que tinham como objetivo proteger as mulheres tornaram-se instrumentos para conter seu papel na sociedade.

É fundamental primeiro colocar algumas perguntas. Por que as leis protecionistas no Islam, como o véu, que inicialmente visavam proteger as mulheres em sociedades como o Afeganistão, foram transformadas em um símbolo do patriarcado? Ao mesmo tempo, por que a proibição do hijab volta a ser discutida na França sob o pretexto de proteger a liberdade feminina? É fundamental explorar até que ponto a justificativa da proteção é usada como desculpa para conceder direitos às mulheres muçulmanas no Afeganistão e na França, e como essas reivindicações acabam prejudicando esses direitos.

Em primeiro lugar, uma compreensão das origens do véu e seu significado no Islam ajudará a desmistificar esse conflito. Seguido por um exame do véu na sociedade afegã. E, finalmente, concluirei com uma análise do debate contencioso e contínuo sobre o papel do véu na França e suas implicações para os direitos humanos das mulheres.

Embora o hijab (ou seja, o véu) seja comumente atribuído à comunidade muçulmana, o advento do véu antecede a vinda do Islam. Originalmente, a “primeira referência ao véu está em um texto legal assírio que data do século 13 aC, que restringia a prática a mulheres respeitáveis ​​e proibia as prostitutas de usar o véu” (Hoodfar 1993:6). Historicamente, o véu significava status e “era praticado pela elite nos antigos impérios greco-romano, pré-islâmico iraniano e bizantino” (ibid). O hijab tornou-se uma faceta distinta da identidade islâmica depois que o véu foi revelado como um mandato divino prescrito por Allah para as mulheres muçulmanas. Vários versículos do Alcorão falam sobre o comando do véu, um deles (Surah Al-Nur, versículos 30-31) afirmando que as mulheres “não mostrem seus ornamentos“, mas sim “que estendam seus cendais sobre seus decotes”. O outro versículo (Surah Al-Ahzab, 59) afirma “Ó Profeta! Dize a tuas mulheres e a tuas filhas e às mulheres dos crentes que se encubram em suas roupagens. Isso é mais adequado, para que sejam reconhecidas e não sejam molestadas”. Definir o que constitui o hijab está frequentemente sujeito às normas culturais de vestimenta e há variações ao redor do mundo (Hoodfar 1993:7). Mas, por meio da interpretação do Alcorão, houve diferenças de opinião a respeito desse mandamento.

Com relação a esses versículos do Alcorão, tem havido grande disputa entre os estudiosos – tanto orientalistas, não muçulmanos, quanto muçulmanos. Um exemplo é Fatima Merssini, uma feminista muçulmana proeminente que desafia vigorosamente a noção de que o véu é explicitamente ordenado no Alcorão. De acordo com Merssini, “o véu representa uma tradição de ‘mediocridade e servidão’, em vez de um padrão sagrado a partir do qual se julga a devoção das mulheres muçulmanas a Allah” (Read & Bartkowski 2000: 401). Feministas muçulmanas anti-véu, como Merssini, também citam “o fato histórico de que o véu é uma prática cultural originada de fora dos círculos islâmicos” (ibid). Essa vertente do feminismo também questiona as interpretações das escrituras mencionadas por estudiosos muçulmanos para justificar o véu, “chamando a atenção para o fato de que o Alcorão se refere enigmaticamente a uma ‘cortina’ e nunca instrui diretamente as mulheres a usarem o véu” (ibid). Obviamente, os argumentos de ambos os lados vão além de algumas das queixas feministas selecionadas aqui, mas este debate extrapola esta discussão. No entanto, como uma questão de perspectiva histórica, é fundamental compreender que existiu um debate contencioso sobre a própria legitimidade do hijab e esse debate oferece um pano de fundo de como o véu é implementado em diferentes sociedades.

Antes da invasão do Afeganistão pelos EUA em 2001, muitos americanos ficaram cada vez mais preocupados com a situação das mulheres afegãs sob o domínio do Taliban. Um exemplo dessa intriga foi demonstrado por Laura Bush, que declarou que “por causa de nossas recentes conquistas militares em grande parte do Afeganistão, as mulheres não estão mais presas em suas casas. Elas podem ouvir música e educar suas filhas sem medo de punição… a luta contra o terrorismo é também uma luta pelos direitos e pela dignidade das mulheres” (Abu-Lughod 2002:784). Aos olhos ocidentais, a burca (a vestimenta usada por muitas mulheres afegãs) foi frequentemente retratada na mídia como um símbolo de opressão que “as mulheres no Afeganistão tiveram de suportar” (Noelle-Karimi 2002:3). No entanto, à luz dos fundamentos teológicos discutidos anteriormente, estas vestimentas servem para proteger as mulheres muçulmanas. Como é que o Ocidente passou a lamentar sobre a roupa muçulmana no Afeganistão? Uma resposta inegável a essa pergunta está no controle do poder do Taliban naquele país. Para entender porque o Taliban passou a impor a cobertura feminina como uma marca registrada de seu governo, primeiro é importante entender as origens de suas ideologias.

A interpretação severa do Taliban sobre o Islam ajuda a explicar porque a imposição de uma forma rígida de vestimenta islâmica pelo grupo limitou o papel das mulheres afegãs na sociedade, apesar das intenções protecionistas da lei islâmica. (NT: Precisamos considerar que a formação do Afeganistão é composta por diversas etnias como uzbequis, quirquizes, uigures, pashtuns, etc; muitas delas com o costume do uso de vestimentas mais ortodoxas, portanto, a imposição do Taliban não é algo que vai de encontro às diversas culturas e costumes dos povos que formam o Estado Afegão.) Antes de sua consolidação de poder no Afeganistão, Ahmed Rashid argumenta que “uma vez que o Taliban era órfão de guerra, que em sua longa batalha contra as forças ocupacionais soviéticas teve pouca ou nenhuma interação com as mulheres e sua companhia, eles se isolaram em uma irmandade masculina comparada à dos Cruzados da Idade Média” (Misra 2002:582). A maioria dos seguidores da primeira geração do Taliban cresceu em campos de refugiados no Paquistão, onde vivenciaram extrema pobreza e como refugiados “foram encorajados a abraçar a ideia de vingança em inúmeras madrassas patrocinadas pela Arábia Saudita, Paquistão e CIA” (ibid). Rashid não apenas argumenta que as ações rígidas do Taliban contra as mulheres foram “destinadas a reforçar a ordem patriarcal tribal” (ibid), mas também que a ideologia do Taliban está enraizada no Alcorão “que apresenta explicitamente uma sociedade dominada por homens, onde as mulheres desempenham apenas um papel secundário papel” (ibid). Mas é este o caso? Conforme discutido anteriormente, as doutrinas ortodoxas no Islam codificaram um conjunto de regras para as mulheres com o objetivo de proteger, em vez de impedir. Laila al-Hibri discute esse assunto em profundidade no artigo “Islam, lei e costumes: redefinindo os direitos das mulheres muçulmanas”. Al-Hibri argumenta que os mandatos equânimes do Islam, particularmente aqueles relativos aos direitos das mulheres, foram executados integralmente durante a vida do Profeta Muhammad (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) e das gerações posteriores. Ainda assim, al-Hibri afirma que essas reformas para as mulheres foram mascaradas pelas interpretações de muitos estudiosos religiosos do sexo masculino, já que as mulheres muçulmanas foram empurradas para segundo plano. Como evidência da igualdade de gênero no Alcorão, al-Hibri afirma que “[o Alcorão] articula um princípio geral básico sobre relações de gênero adequadas; a saber, são relações entre cônjuges criados a partir do mesmo nafs [alma], o que proporciona tranquilidade a esses cônjuges, e estas relações devem ser caracterizadas por afeto e misericórdia. Tais relações não deixam espaço para hierarquias satânicas que resultam apenas em contenda, subordinação e opressão” (al-Hibri 1997:15). Em relação a esta questão presente, pode-se concluir que o Taliban interpretou estritamente os direitos das mulheres no Islam a fim de manter o domínio patriarcal sobre as mulheres afegãs. E há evidências que documentam como o Taliban executou sua ideologia extremista em relação à cobertura feminina (quando da sua ocupação entre os anos de 1996 e 2001).

De acordo com Jurgen Kleiner no artigo “O Taliban e o Islam”, com a criação do Departamento para a Prevenção do Vício e Promoção da Virtude pelo Taliban em 1996, “esquadrões desse departamento visitavam Cabul e garantiam que as regras para conduta e vestuário [fossem] seguidas” (Kleiner 2000:27). Como prova desses mandatos rígidos, em dezembro de 1996, “225 mulheres que não cumpriam o código de vestimenta foram punidas” (ibid). Kleiner prossegue afirmando que “tudo isso [foi] feito em nome do Islam – eliminando tudo o que pudesse prejudicar o ‘caminho certo’” (ibid). Mas, não apenas a reinterpretação do Islam pelo Taliban se limitou a impor à força o código de vestimenta das mulheres, eles também adotaram medidas que excluíam as mulheres da educação e do emprego. Ironicamente, esta foi a própria religião que o Taliban afirmava salvaguardar, religião esta que dotou as mulheres de igual participação na sociedade, desde seu advento. Embora o Taliban tenha insistido que sua exigência do uso da burca “concedia às mulheres uma posição de ‘dignidade e honra’” (ibid:28), eles acabaram reduzindo as mulheres a não mais do que apenas roupas. Por exemplo, a proibição do Taliban à educação para mulheres estava muito longe da realidade que existia nas primeiras gerações muçulmanas. O Alcorão determina claramente que a educação é um dever tanto dos homens quanto das mulheres (al-Hibri 1997:23). Alguns dos indivíduos mais versados ​​no Alcorão e na tradição profética eram mulheres e al-Hibri menciona que “também havia centenas de mulheres que estavam entre os Companheiros do Profeta” e que “a educação religiosa das mulheres no início do Islam caminhava de mãos dadas com a dos homens” (ibid:22). Mesmo além do Taliban, olhando amplamente para todo o mundo muçulmano, al-Hibri questiona o declínio na representação da bolsa de estudos das mulheres muçulmanas. Ela atribui essa ausência aos sistemas patriarcais que dominaram as terras muçulmanas e, por extensão, aos estudos muçulmanos nas gerações posteriores ao Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele). No século XXI, o fator mais convincente que pode explicar as relações duras do Taliban com as mulheres são suas interpretações estritamente erradas das leis protecionistas para as mulheres afegãs, destinadas a preservar sua sociedade dominada pelos homens. Além do Taliban, as democracias ocidentais também são capazes de infringir o direito das mulheres de se vestir livremente, e a França é um exemplo de país que tem estado no centro desse debate na última década.


Fonte: www.muslimmatters.org

O Hijab e os Direitos das Mulheres Muçulmanas (na França – Parte II)


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بِسْمِ اللَّهِ الرَّحْمَٰنِ الرَّحِيمِ



Parte II

França

Em 2004, uma lei aprovada na França proibia o uso de símbolos religiosos em escolas públicas (Wing & Smith 2006:745). E, recentemente, este assunto volta a ocupar a pauta, pois um projeto de lei contra o terrorismo foi novamente aprovado pela Assembleia Nacional. Um dos itens é a proibição do uso de símbolos religiosos (ou seja, o hijab sendo um deles) em prédios públicos. Embora essa lei afeta os yarmulkes judeus, os turbantes sikhs e os crucifixos cristãos, seu principal efeito é de proibir o uso de hijabs, por jovens muçulmanas” (ibid). O princípio por trás dessa legislação foi o “compromisso da França com o secularismo” e a interpretação de que “a separação entre a igreja e o Estado não acomoda mais o uso de coberturas religiosas em suas escolas secundárias” (Wing & Smith 2006:745). Para entender se a proibição francesa do hijab infringe a liberdade de religião das mulheres, é fundamental examinar o princípio do secularismo francês, que ironicamente foi inicialmente estabelecido para proteger a liberdade de religião.

Na Constituição francesa de 1946, o princípio da separação entre Igreja e Estado foi instituído e implicava que “a França é uma república indivisível, laica (secular), democrática e social” (Laborde 2005:308). A secularização da França surgiu após séculos de disputa entre a Igreja Católica e o Estado. De acordo com a cientista política Cecile Laborde, o princípio da liberdade religiosa foi adotado pela primeira vez durante a Revolução de 1789, onde “na redação do Artigo 10 da Declaração dos Direitos do Homem, ‘ninguém deve ser perseguido por suas opiniões, mesmo as religiosas’” (ibid:309). Depois de mais de um século, em 1905, a Lei de Separação foi adotada a fim de “incorporar um ideal clássico de separação liberal entre Estado e religião, sustentado por uma concepção individualista e igualitária de justiça como melhor opção, por meio da abstenção do Estado em relação aos assuntos religiosos ”(ibid:308). Um componente da lei de separação é o princípio libertário (Laborde 2005:308). O princípio libertário afirma que “o Estado permite a prática de qualquer religião, dentro dos limites prescritos pelas exigências da ordem pública e a proteção dos direitos básicos” e que o Estado não deve se envolver na promoção, combate ou interferência nas crenças religiosas de uma instituição (ibid:309). Com a liberdade religiosa embutida na constituição francesa, então sob que justificativa a França foi capaz de proibir o hijab?

De acordo com Laborde, existem cinco maneiras diferentes pelas quais o hijab viola a neutralidade e o “propósito cívico” das escolas (ibid:327). Uma afirmação é que o hijab introduz a identidade religiosa nas escolas públicas, que deveria ser um domínio protegido pelo secularismo (ibid). Sob esse conceito, o hijab “pode ser considerado um ato ilegítimo de propaganda e um ato agressivo de proselitismo” (ibid). Um segundo raciocínio que constitui a proibição é que o hijab simboliza a recusa dos muçulmanos em separar sua identidade como cidadãos de sua identidade como adeptos religiosos (ibid). Assim, a proibição do hijab seria um sinal para a comunidade muçulmana francesa de que ela, como outras comunidades religiosas, precisa colocar sua fé em sintonia com o secularismo francês (ibid). A terceira justificativa é que o hijab infringe a igualdade entre os indivíduos, dividindo automaticamente os indivíduos em “crentes e não crentes… ‘bons muçulmanos’ e ‘maus muçulmanos’, e homens e mulheres” (ibid). Em quarto lugar, os proponentes da proibição alegam que o hijab “prejudica a missão cívica das escolas” (ibid) porque é acompanhado por outros pedidos, como a isenção de participação em cursos de educação física ou biologia (ibid). E, finalmente, os proponentes da proibição citam que “o hijab mina o esquema geral das liberdades religiosas” porque “os alunos muçulmanos infringem a liberdade de consciência dos outros” (ibid:328). Laborde explica que “é extremamente importante que as crianças, em uma idade em que são particularmente vulneráveis, não sejam expostas ao comportamento religioso ostensivo de outras pessoas, para que sua liberdade de consciência não seja violada” (ibid). Além das explicações de Larborde outra justificativa foi que as meninas foram forçadas por seus parentes do sexo masculino e pela comunidade a usar o véu, portanto, é dever do governo intervir pelas meninas que não possuem capacidade de resistir. É curioso como, apesar do fato de algumas garotas muçulmanas considerarem o hijab libertador, o grupo de estudos da Assembleia Nacional insistiu que a maioria das garotas o considera opressor (Scott 2007:129). Para chegar à conclusão da proibição do hijab, não houve estatísticas utilizadas para apoiar esta afirmação, apenas a “opinião de ‘especialistas’” que já concordavam com a proposta do governo (ibid). Agora que os antecedentes sobre as origens da liberdade de religião na lei francesa foram fornecidos e os argumentos peculiares que defendem a proibição foram examinados, é importante avaliar porque essa proibição constitui uma violação dos direitos humanos das mulheres muçulmanas.

O governo francês determinou que a melhor maneira de integrar os muçulmanos na sociedade é se concentrar nas escolas como o lugar onde os cidadãos franceses são formados (Wing & Smith 2006:756). O foco da França nas escolas como um meio de “francificar” os indivíduos remonta aos esforços de francificação nas colônias, onde os franceses se concentraram em educar meninas “como uma forma de transmitir os valores republicanos franceses aos seus futuros filhos e maridos, bem como aos seus pais e irmãos no presente” (ibid). Portanto, esta proibição dos hijabs em 2004 e agora em 2021 não é nada novo à luz da história da França. De acordo com a Human Rights Watch, “o código internacional dos direitos humanos obriga as autoridades estaduais a evitar a coerção em questões de liberdade religiosa, e essa obrigação deve ser levada em consideração na elaboração dos códigos de vestimenta escolar”. Portanto, sobre isso, a França violou o direito internacional ao impor a remoção do hijab das meninas menores de idade. A Human Rights Watch prossegue afirmando que “a proibição do hijab proposta na França, como acontece com as leis em alguns países muçulmanos que obrigam as meninas a usar o hijab nas escolas, viola este princípio”. Esta declaração acrescenta peso significativo a este argumento, uma vez que esta organização respeitada está claramente afirmando que ambos os extremos – forçar o uso do hijab ou proibi-lo – constituem uma violação dos direitos humanos. Além disso, a Human Rights Watch explica que, de acordo com o direito internacional, os Estados só podem inibir uma prática religiosa se for prejudicial à segurança pública e “violar os direitos de terceiros”. Esta organização conclui que qualquer vestimenta religiosa “não representa uma ameaça à saúde pública, ordem ou moral; não afeta os direitos e liberdades fundamentais de outros alunos; e não prejudica a função educacional de uma escola”. Como uma violação das disposições anti discriminação da lei internacional de direitos humanos, essa proibição recai desproporcionalmente sobre as muçulmanas, forçando muitos pais a retirarem suas filhas das escolas. Apesar da natureza não vinculativa do direito internacional, os espectadores da comunidade internacional não podem se calar sobre essas violações.

Para discutir a questão da proibição do hijab nos prédios públicos na França, é fundamental entender as motivações subjacentes que podem ter catalisado essa violação do direito internacional. A França tem a maior população de muçulmanos da Europa, com cerca de cinco a dez por cento do total de cidadãos seguindo essa religião (Wing & Smith 2006:752). O afluxo de imigrantes muçulmanos de países predominantemente do Oriente Médio alarma parte do público francês, que muitas vezes vê esses grupos como estrangeiros, mesmo depois de conquistarem a cidadania (ibid). Assim, a população muçulmana na França há sido incansavelmente rejeitada política e culturalmente, com parte da população francesa temendo que a construção de mesquitas e os chamados para orações (adhan) “representassem um ‘choque de civilizações’” (ibid). Esse temor da criação de uma “Eurábia” só vem aumentando desde o 11 de setembro e Guerra ao Terror, com muitos governos optando por difamar a comunidade muçulmana como uma resposta aos ataques terroristas praticados em nome do Islam. No entanto, políticas como a proibição do hijab ou do niqab e a proibição da construção de minaretes na Suíça empurraram alguns membros da comunidade muçulmana para a periferia, às vezes alimentando o fundamentalismo religioso e o radicalismo (ibid). No geral, os temores da imigração e do aumento da islamofobia na Europa podem ser explicações plausíveis para as motivações por trás desta proibição. Independentemente dos motivos, esta ação legal sem dúvida desencadeia uma discussão acesa na Europa sobre o lugar da religião em uma sociedade secular e, sem dúvida, essas questões ainda não foram resolvidas.




Referências:

Human Rights Watch News (2004) “France: Headscarf Ban Violates Religious Freedom,” Human Rights Watch, http://www.hrw.org/en/news/2004/02/26/france-headscarf-ban-violates-religious -liberdade (acessado em 9 de novembro de 2010).

Laborde, Cecile (2005) “Secular Philosophy and Muslim Headscarves in School”, 13 The Journal of Political Philosophy 305-329.

Scott, Joan W. (2007) The Politics of the Veil. Princeton: Princeton University Press.

Wing, Adrien K., & Monica Smith (2006) “Critical Race Feminism Lifts the Veil?: Muslim Women, France, and the Headscarf Ban,” 39 U.C. Davis Law Review 744-790.

O Hijab e os Direitos das Mulheres Muçulmanas (Conclusão – Parte III)


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بِسْمِ اللَّهِ الرَّحْمَٰنِ الرَّحِيمِ


Ao longo dos tempos e em todas as terras habitáveis ​​do planeta, os direitos das mulheres, em geral, têm sido frequentemente violados. As questões pertinentes aos direitos das mulheres são enormes, e como os dois artigos anteriores, nesta série, demonstraram, algo tão simples como a roupa usada por uma mulher pode ser ferramenta para violar seus direitos como agente livre – tanto obrigando a usar, quanto a deixar de usar. Esse foi o caso no Afeganistão e na França, dois países que residem nos extremos dessa questão. Não podemos negar que, apesar de só termos citado estes dois países, poderíamos listar um sem-número de outros locais onde as mulheres muçulmanas são cerceadas em suas escolhas pessoais. Lembramos que o hijab é uma ordem Divina para a mulher, é prescrito na religião e é obrigatório, porém, em contrapartida, na religião não deve haver compulsão, portanto é a muçulmana que optará se quer ou não usar o lenço, assumindo as responsabilidades de sua decisão.

No Afeganistão, a lei protecionista do véu que está consagrada na lei islâmica foi empregada por alguns membros do Taliban como uma ferramenta para subjugar as mulheres. Algumas facções desse regime, que controlavam o Afeganistão antes de 2001, impuseram estritamente o véu sobre as mulheres naquele país, com punição exigida àquelas que violassem esse código de vestimenta. Na França, a decisão de impor a proibição do hijab nas escolas públicas nega a liberdade de religião que está embutida na lei francesa e na lei internacional. Sob o pretexto de proteger essas meninas de suas famílias ou da comunidade que pode obrigá-las a usar a vestimenta, o governo francês expressa suas supostas boas intenções para com as muçulmanas e seu desejo de manter as escolas seculares. Independentemente do bem pretendido, ao aprovar esta lei, a França violou o direito internacional sobre a liberdade de praticar a religião e pode ter, inadvertidamente, contribuído para a radicalização ainda maior de uma população vulnerável.

A diversidade de opinião e o pluralismo devem ser adotados por todas as nações do mundo, mas tanto a França quanto o Afeganistão optam por não aceitarem esse chamado, limitando os direitos das mulheres em seus países. Atualmente, o Taliban está tecnicamente com o controle do poder no Afeganistão, e afirma que manterá os direitos das mulheres já conquistados nessas duas décadas passadas, sob a condição das limitações impostas pelo Islam. Até aí, tudo bem, as limitações que o Islam nos impõe são libertadoras e benéficas aos seres humanos e nós, como muçulmanos, não ousamos achar que esta condição seja algo inadequado ou pesado. Porém, nós esperamos que esta nova geração do Taliban seja menos truculenta que a de duas décadas atrás e também, esperamos que os direitos das mulheres, acesso a trabalho e educação, assim como os direitos dos cidadãos sejam mantidos, conforme prometido – afinal, o Islam é, e sempre foi, uma religião libertária e que dá bastante espaço para a mulher atuar socialmente. Se a nova geração do Taliban tiver uma leitura mais sensata do Alcorão e da sunnah do nosso amado Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele), então, consequentemente manterá o respeito ao espaço das mulheres, uma vez que o Islam sempre concedeu às mulheres diversos direitos, incluindo à educação e ao trabalho.

Com a França, a esperança é um pouco mais escassa, afinal a Europa cada vez mais dominada pela ascensão de partidos de direita e com políticas cada vez mais radicais em relação aos muçulmanos sendo adotadas, não nos dá um prognóstico muito bom. O aumento dessas leis anti-islâmicas leva a questionar se a Europa será um lugar acolhedor para os muçulmanos no futuro. De qualquer forma, com o crescente aumento do número de muçulmanos neste continente, talvez, em algum tempo, haja uma participação maior dos muçulmanos em cargos de governo, no legislativo e judiciário, assim, conseguimos manter uma centelha acesa desta tão almejada esperança.

Estes artigos trazem à tona uma discussão que deve estar presente no mundo – ocidente ou oriente: as mulheres são capazes de definir o que é melhor para elas! Quando o ocidente se levanta para defender a proibição do hijab, ou quando muçulmanas são atacadas nas ruas por suas vestimentas não é diferente do abuso da determinação do estilo de hijab que as mulheres devam usar. O que queremos deixar claro é que o hijab, apesar de ser obrigatório e uma ordem Divina, continua sendo uma opção pessoal da mulher. O uso de um lenço por obrigação apenas não é algo que proporcione os benefícios espirituais que vêm junto com o hijab, e quando o hijab é usado sem consciência e fé, ele perde o significado. Na realidade, há condições no uso do hijab e ele não é um mero adereço, mas sim algo que determina o comportamento da mulher que o veste. Então, como cobrar um comportamento adequado se a mulher ainda não compreendeu seu significado? O que importa a uma sociedade não é a aparência das pessoas, mas sim o comportamento social; portanto a obrigatoriedade de se vestir ou deixar de vestir algo se torna somente uma forma de cercear a mulher em âmbito pessoal.



Por Letícia de Paula
Fonte: Oislam.org

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

A Mulher no Islam e o Feminismo


السلام عليكم ورحمة الله وبركاته

بِسْمِ اللَّهِ الرَّحْمَٰنِ الرَّحِيمِ

O que nós geralmente esquecemos é que Deus honrou a mulher dando-lhe o seu valor em relação a Deus – não em relação aos homens. Mas como o feminismo ocidental apaga Deus do cenário, não há outro padrão/standard a ter em consideração – excepto o dos homens. Resultado: a feminista ocidental é forçada a encontrar o seu valor em relação a um homem. E fazendo-o, ela aceitou uma suposição defeituosa. Ela aceitou que o homem é o standard e que uma mulher nunca poderá ser um ser humano inteiro até que ela se torne igual a um homem. Quando um homem cortou o cabelo curto, ela quis o seu cabelo curto. Quando um homem se juntou ao exército, ela quis juntar-se ao exército. Ela queria estas coisas não mais porque o “standard” as tinha.

O que ela não percebeu foi que Deus dignifica ambos os homens e as mulheres na sua distinção – não na sua igualdade. E a 18 Março, as mulheres muçulmanas cometeram exactamente o mesmo erro.Por 1400 anos há consenso dos sábios que os homens lideram a oração. Para uma mulher muçulmana, qual a importância disto? Aquele que lidera a oração não é espiritualmente superior de modo algum. Nada é melhor só porque um homem o faz. E liderar a oração não é melhor só porque é liderar. Se fosse o papel das mulheres ou se fosse mais divino, porque é que o Profeta (que a paz e as bençãos de Allah estejam com ele) não pediu à ‘A’isha ou à Khadijah, ou à Fatima – as maiores mulheres de todos os tempos – para liderar? O Céu foi prometido a estas mulheres – e, no entanto, elas nunca lideraram a oração.

Mas agora, pela primeira vez em 1400 anos, nós olhamos para um homem a liderar a oração e pensamos “Isso não é justo”. Nós pensamos assim quando Deus não deu qualquer privilégio àquele que lidera. O Imam não é mais superior aos olhos de Deus do que aquele que reza atrás.

Por outro lado, só uma mulher pode ser mãe. E Deus deu especial privilégio à mãe. O Profeta (que a paz e as bençãos de Allah estejam com ele) ensinou-nos que o Céu/Paraíso está aos pés das mães. Mas não importa o que um homem faça, ele nunca poderá ser uma mãe. Então porque é que isso não é injusto?

Quando foi perguntado ao Profeta (que a paz e as bençãos de Allah estejam com ele) “Quem é que merece mais o nosso carinho?”, o Profeta (que a paz e as bençãos de Allah estejam com ele) respondeu “A vossa mãe” três vezes antes de dizer “O vosso pai”, apenas uma vez. Isso é sexista? Não importa o que um homem faça, ele nunca conseguirá ter o status de uma mãe.

E no entanto, mesmo quando Deus nos honra com algo unicamente feminino, estamos demasiado ocupadas a tentar encontrar o nosso mérito em relação aos homens para eles lhe darem valor – ou até mesmo notarem. Nós, também, aceitámos os homens como standard. Por isso qualquer coisa que seja unicamente feminino é, por definição, inferior. Ser sensível é um insulto, tornar-se mãe – uma degradação. Na batalha entre racionalidade estóica (considerada masculina) e compaixão abnegada (considerada feminina), racionalidade reina suprema.

No momento em que aceitamos que tudo o que um homem tem e faz é melhor, tudo o que se segue é uma reacção institiva: se os homens têm, nós também queremos. Se os homens rezam nas primeiras filas, nós assumimos que isso é melhor, por isso nós queremos rezar nas primeiras filas também. Se os homens lideram a oração, nós assumimos que o Imam está mais perto de Deus, por isso nós queremos liderar a oração também. Algures no meio da linha nós aceitámos a noção de que ter uma posição de liderança mundana é alguma indicação da posição de alguém com Deus.

Uma mulher muçulmana não precisa de se degradar desta maneira. Ela tem Deus como standard. Ela tem Deus para lhe dar valor. Ela não precisa de um homem.

A verdade é que na nossa crusada em seguir os homens, nós, mulheres, nunca parámos para examinar a possibilidade de termos o que é melhor para nós. Em alguns casos, nós até desistimos do que era superior só para sermos como os homens.

Há 50 anos atrás, a sociedade disse-nos que os homens eram superiores porque eles saíam de casa para trabalhar em fábricas. Nós eramos mães. E no entanto, foi-nos dito que era a libertação das mulheres abandonar a criação/educação de outro ser humano só para trabalharmos numa máquina. Nós aceitámos que trabalhar numa fábrica era superior à criação/educação da fundação de uma sociedade – só porque um homem o fazia.

Logo, depois de trabalhar, foi-se esperado que fossemos superhumanas – a mãe perfeita, a esposa perfeita, a dona-de-casa perfeita – e tivessemos a carreira perfeita. E, não havendo nada de errado sobre uma mulher ter uma carreira, nós viemos a perceber o que sacrificámos para cegamente imitarmos os homens. Nós assistimos sentadas, vendo as nossas crianças a tornarem-se completos estranhos e reconhecemos logo o privilégio de que abdicámos.

E só agora – tendo a escolha – as mulheres no Ocidente escolhem ficar em casa para educar as crianças delas. De acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, só 31% de mães com bebés e 18% de mães com 2 ou 3 crianças estão a trabalhar a tempo inteiro. E das mães que trabalham, um questionário realizado pela Parenting Magazine em 2000 mostrou que 93% delas dizem que preferiam estar em casa com os seus filhos, mas têm que trabalhar por “obrigações financeiras”. Estas “obrigações” são impostas às mulheres pela igualidade de sexos do Ocidente moderno, e removidas das mulheres pela distinção de sexos do Islam. Demorou um século de experimentação às mulheres no Ocidente para realizarem um privilégio dado às mulheres muçulmanas 1400 anos atrás.

Dados os meus privilégios como mulher, eu só me degrado a tentar ser algo que não sou – e com toda a honestidade – não quero ser: um homem. Como mulheres, nunca chegaremos à libertação verdadeira até que paremos de imitar os homens, e até darmos valor à beleza da nossa dádiva da distinção. Havendo uma escolha entre justiça estóica e compaixão, eu escolho compaixão. E havendo uma escolha entre liderança mundana e o Céu/Paraíso aos meus pés – eu escolho o Céu/Paraíso.


Por Drª. Yasmin Mogahed
Fonte: OIslam.org

terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Quando surgiu o terrorismo ?


 السلام عليكم ورحمة الله وبركاته

بِسْمِ اللَّهِ الرَّحْمَٰنِ الرَّحِيمِ

Até em blog no Estadão surgiu a pergunta: “Porque não havia terrorismo associado ao Islamismo, antes dos anos 1980”. Respondi há mais de um ano e até hoje minha resposta não foi publicada. Talvez eu não tenha visto a resposta ou não responderam mesmo, mas pouco importa. O artigo do Estadão ia além ao dizer: “Uma pergunta que poucos fazem é sobre quais seriam os motivos de quase todas as organizações terroristas dizendo agir em nome dos muçulmanos terem sido formadas nos últimos 30 anos. Mais interessante, por que algumas das mais radicais, como Boko Haram e o Estado Islâmico (considerado extremista até pela Al Qaeda), foram fundadas apenas neste século?”

De fato, em minha opinião, poucos fazem esta pergunta e, então, vamos raciocinar a respeito.

O Hizbullah é chamado pelos inimigos do Líbano como uma organização xiita terrorista, fundamentalista retrógrada cujo líder é um “rato que vive escondido no esgoto”. A realidade, no entanto, é outra e não agrada aos sionistas, pois o líder do Hizbullah não é bobo para se exibir ‘a descoberto’ ao público a toda hora.

A adjetivação do “Partido de Deus” declarada por seus inimigos está certa ou ele é, pura e simplesmente, um partido nacionalista, criado no Sul do Líbano ocupado por Israel, para defender o Líbano e também outros países árabes da ocupação estrangeira que tem em suas fileiras seguidores de todos os credos reconhecidos no País dos Cedros? O correto é óbvio e só não o vê quem prefere a noite escura aos raios solares?

Já o Hamas, para seus inimigos, não passa de uma organização terrorista que ataca pacíficos cidadãos civis israelenses que vivem calmamente adorando a D’us em suas casas. A realidade é que se trata de uma organização que existe para defender a sua pátria, cercada por terra, mar e ar, contra intrusos que ocupam as terras onde viviam. As militares que ocupam Gaza e toda a Palestina têm uma força militar milhares de vezes maiores que a do Hamas e assim mesmo querem passar ao mundo a ideia de que os palestinos são os agressores.

Outra indagação seria: quem é mais fundamentalista religioso, o Hamas ou o Yisrael Beitenu e quem dentre os membros dos dois partidos tem mais ligação com a terra palestina, Mughnieh que nela nasceu ou Liberman que nasceu numa das repúblicas da então União Soviética? Que dizer de Gopstein, do Lehava, agremiação conhecida por sua apologia ao ódio e à violência contra os palestinos e dos africanos que pretendem se naturalizar?

Num post anterior, alguém transcreveu um longo trecho do que disse ser o programa do Hamas – e talvez o seja mesmo, pois é só o que resta ao partido palestino quando se vê em face do livro Torat Ha’ Melekh de autoria de diversos rabinos onde está escrito que “se há uma razão de crer que filhos de gentis possam um dia nos prejudicar, é deliberadamente permitido matá-los”.

Isto demonstra, e ficou omitido no citado post, talvez de propósito, a influência negativa que trouxe para os árabes, independentemente de religião, a instalação em suas terras de um organismo político-religioso que em nada se assemelha a eles e que tem em seus partidos de direita, que são atualmente maioria, uma pretensão clara e cristalina de que os árabes devem morrer.

É pura coincidência que os movimentos que provêm de regiões de maioria islâmica e consequentemente têm conotação próxima da religião, mas não tão próxima desta quanto do nacionalismo sejam confundidos com o Islã o qual, diga-se de passagem, prega o contrário do que os movimentos ditos islâmicos pretendem enfiar goela abaixo dos nacionalistas que os cercam.

A incoerência dos sionistas e seus apoiadores, assim como de certos regimes de países de maioria árabe e ou muçulmana e de potências locais, como Turquia, ou potências estrangeiras como Estados Unidos, Reino Unido e França entre outras é evidente: declaram combater o Estado Islâmico, mas fornecem a estes inimigos do Islã condições para que atuem criminosamente contra a segurança dos povos da região, os únicos prejudicados e maiores merecedores da paz que os habilitará para enterrar seus mortos, cuidar de seus feridos, reconstruir a suas terras arrasadas e voltarem a usufruir da liberdade que lhes foi tomada, desde o Iêmen, a Palestina, a Síria, o Iraque e além.

Isto dito, está claro que o ‘terrorismo islâmico’ foi promovido como tal quando o conceito de “umma” e “nação” não atendia mais, por ineficácia, à política externa de Tel Aviv, Washington, Paris e outras, e encontraram na religião um novo modo de tentar dominar árabes e muçulmanos.

Este novo recurso está fadado ao fracasso como o foi o mesmíssimo tentado pelo regime fundamentalista do Império Otomano.




Por José Farhat

José Farhat é cientista político, arabista e diretor de Relações Internacionais do ICArabe

Violência doméstica


 السلام عليكم ورحمة الله وبركاته
بِسْمِ اللَّهِ الرَّحْمَٰنِ الرَّحِيمِ

É muito recorrente que mulheres venham me procurar para discutir um dos versículos mais “polêmicos” do Alcorão na surata An-Nissan (As Mulheres), versículo 34, supostamente interpretado como a “permissibilidade” de “bater” na esposa. Sim, a violência doméstica existe em famílias muçulmanas, mas qual é a relação disso com os ensinamentos divinos? NENHUM! Muitos homens, principalmente os que nasceram na religião, usam este versículo para justificar sua agressão à esposa, isso é correto? NÃO! Como bem sabemos a violência contra mulheres é histórica, social, e não corresponde a um único grupo religioso, ou não religioso, infelizmente é algo disseminado na humanidade no qual combatemos diariamente.

Mas, a pergunta que gostaria de fazer aos muçulmanos é: O Profeta Muhammad SAAS bateu em alguma de suas esposas? Gritou com elas? A deixou passar necessidade? Se a resposta foi: Não! Alguma coisa neste pensamento de “poder bater” está errado, porque, se o Profeta é o exemplo a ser seguido por todos os-as muçulmanos-as e sendo ele o Mensageiro de Deus seria o primeiro a seguir suas ordens. Se isto não aconteceu, portanto, é suficiente, para dizer, que este versículo não é aquilo que dizem ser: consentimento para bater em sua esposa.

O leitor deve saber que a cosmologia islâmica compreende o Alcorão e a Sunnah (ditos, falas, comportamento) do Profeta Muhammad SAAS. Tudo o que o nosso Amado Profeta fazia estava pautado nos ensinamentos do Alcorão. Não há invenção por parte dele. Nada em sua prática está fora dos ensinamentos de Deus. Se o tal versículo fosse a indicação da permissão para bater em sua esposa, por que o Profeta não o teria feito? Foram inúmeras vezes que Aishah o testou com o seu ciúme, mas em nenhum momento ele usou de força ou de palavras agressivas, ao contrário, era sempre paciente e generoso com ela e com as demais esposas.

O que ensina este versículo? Em primeiro lugar, que o marido deve aconselhar sua esposa, muitas vezes, o marido, acaba chamando a família ou o sheikh para resolver algum conflito entre o casal. Se isso não resolver ele deve abandonar a cama, isto é, se afastar de sua esposa, e no terceiro ponto o ato que as pessoas traduzem como “bater” (daraba) que é encostar-se à mulher um objeto como uma escova de dente, meswak (galho de árvore), para que se acalme. Vamos compreender na perspectiva de juristas muçulmanos o verbo daraba:

De acordo com o famoso jurista maquense ʿAṭāʾ ibn Abi Rabah (falecido em 732 DC), ḍaraba não se refere a bater de forma alguma; em vez disso, é um gesto simbólico que reflete a raiva de alguém. Ele afirmou com firmeza: “Um homem não bate em sua esposa. Ele simplesmente expressa que está chateado com ela. ” Al-Darimi (falecido em 869 DC), um proeminente erudito persa e professor dos dois mais renomados compiladores de narrações proféticas, Bukhari e Muslim, compôs um capítulo inteiro de hadith (narrações proféticas) que se opunham à violência doméstica intitulada 'A Proibição de Mulheres em Greve'. Alguns estudiosos chegaram a desafiar a autenticidade das narrações que supostamente permitiam que os homens batessem em suas esposas. Ibn Hajar, um estudioso considerado um mestre medieval de hadith, afirmou que, apesar do aparente significado do verso do Alcorão, o exemplo dado pelo Profeta é prova suficiente de que bater na esposa de alguém é repreensível. Além disso, o jurista sírio do século XIX, Ibn Abidin, declarou que qualquer dano que deixasse uma marca na esposa poderia resultar na punição física do marido.

O professor Tariq Ramadan, neto de Hassan Al Banna, em seu livro “Le Génie de l´islam: inicitiation à ses fondements, sa spiritualité et son histoire” expõe que sunitas e xiitas têm cinco grandes tendências: 1) literalistas, que leem as fontes sem considerar as perspectivas históricas e oferecem pouco lugar à razão; 2) tradicionalistas, que vão considerar os estudiosos antigos; 3) reformistas, que devem considerar a razão para compreensão dos textos, da Ijtihad e das Ciências 4) racionalistas, que afirmam que a razão deve se impor à autoridade dos textos e desenvolver um pensamento secularista; 5) místicos, que fazem uma leitura pela inteligência do coração e se dedicam à purificação e liberdade do ser.

Toda vez que ouço alguém mencionar “bater” quando se refere ao respectivo versículo, logo me vem a explicação de Ramadan quando fala sobre leitura literalista. Infelizmente é isso que ainda perdura em uma parte considerável da comunidade islâmica. Por isso, toda vez que alguma mulher vem me perguntar sobre este tema eu indico todos os Sheikhs com quem aprendi e aprendo a religião. Nunca ouvi nesses mais de 22 anos de estudo em nenhuma palestra ou conversa a autorização para que homens possam bater em suas esposas, de modo que só posso entender isso como uma leitura literalista e descontextualizada.

Um bom especialista no texto sagrado sabe que não se pode ler um versículo do Alcorão separado do outro, sem observar o contexto da revelação. A leitura encadeada dos versículos do alcorão, seu contexto e o exemplo do Profeta SAAS são os três eixos que devemos averiguar todas as vezes que temos dúvida de algo que não sabemos explicar. O mesmo se aplica aos hadices que pertencem a uma cadeia de transmissão (snad) e tem um contexto que explica o sentido de cada um. Na mesma surata que supostamente se fala em “bater”, Deus ordena aos homens que "vivam com suas esposas em bondade e equidade" [4:19].

Há inúmeras passagens que se referem ao relacionamento do casal: “E entre Seus Sinais está que Ele criou para vocês companheiros de entre vocês, para que possam morar em tranquilidade com eles, e Ele colocou amor e misericórdia entre seus corações. Em verdade nisso estão os sinais para aqueles que refletem ”[Alcorão 30:21]. Em outras passagens diz que um é vestimenta do outro (2:187) e são protetores uns dos outros (9:71). Portanto, nenhum ensinamento alcorânico induz à violência contra as mulheres.

Vale lembrar um dos hadices que narra a história de um companheiro de o Profeta que perguntou ao Mensageiro: “O que você diz [aconselhar] sobre nossas esposas?” ao que o Profeta respondeu: “Divida com elas a mesma comida que você tem para si mesmo, e vista-as com a qual você se veste, e não as bata, e não as injurie”.

Em caso de divórcio, a sura Al baqara, versículo 231 deixa claro que: Não as tomeis de volta com o intuito de injuriá-las injustamente, porque quem tal fizer condenar-se-á. Não zombeis dos versículos de Deus e recordai-vos das Suas mercês para convosco e de quanto vos revelou no Livro, com sabedoria, mediante o qual vos exorta. Temei a Deus e sabei que Deus é Onisciente. Isso relata o respeito com as mulheres mesmo depois de ter divorciado delas.

Penso que dentro do exposto podemos considerar alguns pontos importantes na nossa religião, para nosso aprendizado e bem estar na comunidade: 1) É PROIBIDO A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA! 2) Caso você ouça de algum “Sheikh” que pode bater na esposa, mude de Sheikh, não mude de religião. A religião é perfeita os homens não! 3) Se os casos de violência doméstica acontecem, e isso é fato, cabe a comunidade muçulmana tomar providências enérgicas sobre isso, com cursos, palestras, khutbas. Vivemos em um país no qual a Lei Maria da Penha veio para dar proteção às mulheres, se isso estiver sendo usado contra homens muçulmanos, é porque estamos falhando enquanto comunidade. 4) É fundamental que se eduquem os meninos para ser tornarem homens que se espelhem no Profeta Muhammad SAAS. 5) A honra de um homem está no seu coração entregue a Deus, e o sinal de devoção é também o trato que ele tem com a lei divina, e esta lei diz da responsabilidade dele com sua esposa. 6) Importante que os Sheikhs escutem as mulheres, como fazia o Profeta SAAS, muitas vezes o marido pode ter dinheiro, pode dar casa, comida, mas não dá o essencial, escutem as queixas das mulheres. 7) É preciso criar espaços de atendimento às mulheres que sofrem violências, ajudar da melhor forma possível a sair do convívio do agressor. Isso o que as muçulmanas da UMMAB – União de Mulheres Muçulmanas do Brasil vem fazendo, mas precisam de apoio. Procurem as manas que elas podem orientar e acolher.

Infelizmente, o Brasil está entre o quarto e quinto lugares dentre os cinco países com maior número de feminicídios do mundo, o que demonstra uma histórica perpetuação de violência de gênero e assassinatos de mulheres, por isso, todas as comunidades religiosas e não religiosas tem responsabilidade no cuidado e respeito às mulheres e na disseminação correta dos ensinamentos religiosos e seculares neste aspecto. Importante salientar que durante a pandemia de Covid 19 a carga com trabalho doméstico cuidado com crianças contribuiu para o aumento dos desentendimentos entre os casais, muitas vezes pela própria falta de colaboração ativa dos homens nessas atividades.

Por fim, é preciso lembrar aos homens que qualquer violência contra mulher é considerado crime. É normal um casal se desentender, brigar, ter opiniões diferentes, o que não é normal e nem aceito na religião é a violência física, psicológica, etc., por isso, que o Islam permite o divórcio, que é um ato lícito, embora sendo o lícito menos desejado, mas é a alternativa mais coerente quando os desentendimentos não chegam em um consenso.


Fonte: icarabe.org

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Explicação da Sura de Al-Baqarah Ayat 191

 السلام عليكم ورحمة الله وبركاته
بِسْمِ اللَّهِ الرَّحْمَٰنِ الرَّحِيمِ


 Período de Revelação

Os estudiosos são unânimes em afirmar que Surah al-Baqarah é Madani e que foi a primeira Surah revelada em Medinah. [Ibn Hajar al-Asqalani em Fath al-Bari no. 160/8].

Apesar de ser a primeira Sura a ser revelada em Medina, ela também contém Ayaat de um período posterior. Na verdade, de acordo com Ibn Abbas [conforme mencionado em Ibn Kathir], o último Ayat revelado ao Profeta foi o Ayat nº. 281 da Surah al-Baqarah e isso ocorreu 8 dias ou mais antes de sua morte [que corresponde ao ano 11 Hijri].

وٱقتلوهم حيث ثقفتموهم وأخرجوهم من حيث أخرجوكم وٱلفتنة أشد من ٱلقتل ولا تقتلوهم عند ٱلمسجد ٱلحرام حتى يقتلوكم فيه فإن قتلوكم فٱقتلوهم كذلك جزآء ٱلكفرين

E mate-os onde quer que você os alcance e expulse-os de onde quer que eles o tenham expulsado, e fitnah é pior do que matar. E não lute contra eles em al-Masjid al-Harām até que eles lutem com você lá. Mas se eles lutarem contra você, mate-os. Essa é a recompensa dos descrentes.

Lições / orientações / reflexões /

Nota explicativa

A sūrah continua a reafirmar a justeza da guerra contra aqueles que submeteram os muçulmanos a campanhas de terror e perseguição e os expulsaram de sua terra natal. Os muçulmanos foram instados a confrontar seus inimigos e matá-los onde quer que estivessem, exceto nas proximidades da Mesquita Sagrada em Meca, a menos que seus inimigos os atacassem primeiro. Essas ordens seriam mantidas a menos que os descrentes aceitassem o Islam, caso em que era proibido lutar contra eles, independentemente de quaisquer mortes ou atrocidades que eles possam ter perpetrado contra os muçulmanos anteriormente.

A conversão religiosa forçada é a pior violação do mais inviolável direito humano. É, portanto, uma ofensa muito mais hedionda do que o assassinato, independentemente da forma que a coerção assuma ou de como seja exercida.

A visão islâmica da liberdade de crença atribui a ela um grande status como um valor social e humano e origina-se da visão islâmica do propósito último da vida e de toda a existência humana: a adoração a Allah em seu sentido mais amplo, que abrange todos atividade humana construtiva. A liberdade de crença é o direito mais precioso do homem neste mundo e deve ser valorizada e protegida. Qualquer violação deste direito, direta ou indireta, deve ser combatida.

A outra restrição é que nenhuma luta foi permitida nas proximidades da Mesquita Sagrada em Meca, que Allah, em resposta às orações do Profeta Abraão, declarou um porto seguro e uma casa de paz inviolável. No entanto, aqueles que profanam a santidade da Mesquita Sagrada e cometem agressão contra os muçulmanos devem ser combatidos e não devem ser poupados.

Hadith relevante

O Profeta é relatado para ter dito:

 إن هذا البلد حرمه الله يوم خلق السموات والأرض , فهو حرام بحرمة الله إلى يوم القيامة, ولم يحل لي إلا ساعة من نهار, وإنها ساعتي هذه حرام بحرمة الله إلى يوم القيامة , لا يعضد شجره, ولا يختلى خَلَاهُ ، فَإِنْ أَحَدٌ تَرَخَّصَ بِقِتَالِ رَسُولِ اللهِصلى الله عليه وسلّم ، فَقُولُخَّصَ بِقِتَالِ رَسُولِ اللهِصلى الله عليه وسلّم ، فَقُولُوا: إنَّكلهَأِنلولنو

"Allah fez desta cidade um santuário desde o dia em que Ele criou os céus e a terra. Portanto, é um santuário por decreto de Allah até o Dia da Ressurreição. Lutar nela foi permitido para mim apenas por uma hora durante o dia. Portanto, ele (isto é, Makkah) é um santuário, por decreto de Allah, de agora em diante até o Dia da Ressurreição. Suas árvores não devem ser cortadas e sua grama não deve ser arrancada. Se alguém mencionar a luta ocorrida por Mensageiro de Allah, então diga que Allah permitiu Seu Mensageiro, mas não permitiu a você." 

[Bukhari e muçulmano]

Buraydah narrou que o Mensageiro de Allah disse:  اغزوا في سبيل الله, قاتلوا من كفر بالله, اغزوا ولا تغلوا ولا تغدروا ولا تمثلوا ولا تقتلوا وليدا ولا أصحاب الصوامع

"Lute por Allah e lute contra aqueles que não acreditam em Allah. Lute, mas não roube (dos bens capturados), cometa traição, mutile (os mortos) ou mate uma criança, ou aqueles que residem em casas de culto." 

[Sahih Muslim]

Ibn `Umar disse:" Uma mulher foi encontrada morta durante uma das batalhas do Profeta e o Profeta então proibiu matar mulheres e crianças.'' 

[Bukhari e Muslim]

Allah fez desta cidade um santuário desde o dia em que criou os céus e a terra. Portanto, é um santuário por decreto de Allah até o Dia da Ressurreição. Lutar nele foi permitido para mim apenas por uma hora durante o dia. Portanto, ele (ou seja, Makkah) é um santuário, por decreto de Allah, de agora em diante até o Dia da Ressurreição. Suas árvores não devem ser cortadas e sua grama não deve ser arrancada. Se alguém mencionar a luta ocorrida pelo Mensageiro de Allah, diga que Allah permitiu Seu Mensageiro, mas não permitiu a você.

[Bukhari e muçulmano]

Abu Musa Al-Ash`ari disse: "O Profeta foi questionado, 'Ó Mensageiro de Allah! Um homem luta por bravura, e outro luta para se exibir, qual deles luta pela causa de Allah' O Profeta disse, Aquele que luta para que a Palavra de Allah seja superior, então ele luta pela causa de Allah.

[Bukhari e Muslim]

Fui ordenado (por Allah) a lutar contra o povo até que proclamem: 'Ninguém tem o direito de ser adorado a não ser Allah'. Quem quer que o diga, salvará sua vida e propriedade de mim, exceto nos casos da lei, e sua conta ficará com Allah.

[Bukhari e muçulmano]